No músculo esquelético, o monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) intracelular regula processos que incluem a contração, o metabolismo e a expressão de proteínas sinápticas (Duarte et al., 2012; Navegantes et al., 2001; Bergantin et al., 2011). Estudos do nosso grupo mostraram que após a ativação de receptores acoplados à proteína G estimulatória (GsPCR) ou da enzima adenilil ciclase (AC), parte do AMPc intracelular recém-formado é transportado para o interstício celular (Godinho e Costa-Jr, 2003; Chiavegatti et al., 2008). Fora da célula, o AMPc é capaz de atuar como sinalizador extracelular através de seu metabólito adenosina, formado pela ação sequencial de ecto-fosfodiesterases e ecto-5’-nucleotidases (Chiavegatti et al., 2008). Mais recentemente demonstramos que a ativação do adrenoceptor β2 tem uma ação bifásica caracterizada pela potenciação inicial da contração muscular, resultado do aumento do AMPc intracelular, seguida por um efeito inotrópico negativo, relacionado ao efluxo do AMPc e ativação de receptores A1 pelo metabólito adenosina (Duarte et al, 2012). Sabe-se que a adenosina formada a partir do ATP liberado pelo neurônio motor, é capaz de modular a transmissão neuromuscular através do seu metabólito adenosina e ativação dos receptores neuronais de adenosina (Ribeiro J.A, et al; 1996), Porémno músculo esquelético, não foi identificado se o efluxo e metabolização do AMPc, regula a transmissão neuromuscular. O objetivo do trabalho foi avaliar a participação do AMPc extracelular e de seu metabólito adenosina na transmissão neuromuscular. Foram utilizados músculo diafragma de camundongos machos de 3 a 4 meses, e a contração muscular foi induzida pela estimulação elétrica do nervo frênico (n=3-4). Foi utilizado o protocolo de estimulação elétrica train-of-four TOF (2 Hz, 2 ms de duração) e a razão entre a amplitude de contração do quarto (T4) e o primeiro estímulo (T1) foi determinada, para avaliar o efeito dos bloqueadores neuromusculares d-tubocurarina e hexametônio, na presença ou ausência do AMPc e/ou clenbuterol, com ou sem a pré-incubação dos antagonistas dos receptores de adenosina (CGS15943 e ZM241385) ou dos inibidores dos transportadores de ânions orgânicos (probenecida) e da ecto-5`-nucleotidase (AMPCP). O efeito do formoterol no AMPc intracelular e extracelular foi quantificado pelo ensaio de resolução de tempo-FRET.A d-tubocurarina 300 nM e o hexametônio 1,5 mM causaram 25% de bloqueio neuromuscular, esse efeito foi inibido pela pré-incubação por 30 minutos com AMPc 100 μM e pelos agonistas de adrenoceptores β2 clenbuterol 100 nM e formoterol 100 nM que também promoveram um incremento de 15% na força de contração, esses efeitos foram associadosao incremento dos níveis de AMPc intracelular e extracelular. Os antagonistas dos receptores de adenosina CGS15943 100 nM (não seletivo) e ZM241385 100 nM (seletivo A2A) e os inibidores dos transportadores de ânions orgânicos (probenecida 300 μM) e da ecto-5`-nucleotidase (AMPCP 100 μM) inibiram o efeito do AMPc e do clenbuterol no fade induzido pela d-tubocurarina e hexametônio. Os resultados apresentados neste trabalho mostram que a via extracelular AMPc-adenosina iniciada por ativação de adrenoceptores β2 pós-sináptico, modula a contração do músculo esquelético induzida por estimulação do nervo frênico. Essa modulação depende do efluxo do AMPc e ativação de receptores de adenosina pré-sinápticos e provavelmente envolve incremento na liberação de ACh. Contudo, essa via pode funcionar como uma sinalização parácrina que cria um circuito fechado de realimentação e regulação entre as fibras musculares e os neurônios motores.