A pesquisa aqui apresentada tem como objeto central o direito de participação na vida cultural
do Brasil, nos anos 2003/2010, nas duas gestões do Presidente Lula, tendo à frente do
Ministério da Cultura, em um primeiro momento, Gilberto Gil, seguido de Juca Ferreira. O
trajeto foi desenhado a partir do resgate histórico do reconhecimento dos direitos culturais, a
partir dos instrumentos internacionais, e no Brasil, a partir do exame das constituições,
sempre colocando em destaque as tensões que envolve a conquista de direitos, bem como os
processos contraditórios, de avanços e recuos, no âmbito político brasileiro, que revelam um
descompasso entre o que está escrito nas constituições e as práticas políticas. Se reflete
também sobre os novos contornos da cidadania, da reconquista da democracia brasileira, e seu
coroamento com a Constituição Federal de 1988, a primeira a inserir os direitos culturais em
seu texto. Com base no texto constitucional, se buscou examinar a atuação do Estado, no
sentido da garantia dos direitos, e se confirmou a hipótese de que a cultura pensada como
direito, apesar da Constituição ser de 1988, só pode ser visualizada em discursos e práticas, a
partir do período analisado. Há, sem dúvida, uma mudança de paradigmas na política cultural,
no qual a cultura passa a ser pensada em três dimensões: simbólica, cidadã e como fator de
desenvolvimento. A dimensão cidadã, traduzida em termos de direito de participação dos
atores, em diálogo com o Estado, é o principal objetivo da pesquisa, a partir da análise de
alguns mecanismos e instâncias participativas colocadas em prática no período: consultas
públicas, conselhos e conferências, sendo estas últimas o principal objeto empírico estudado,
com grande potencial mobilizador e articulador, capaz de agendar, propor e, de fato, influir na
construção das políticas públicas. Dos depoimentos dos atores, porém, se observa um
descrédito em relação aos representantes e à própria participação, se não se transforma em
ações que correspondam, em alguma medida, às demandas. Respondendo a algumas hipóteses
levantadas no terceiro capítulo, se observa que o exercício do direito de participação na vida
cultural, por meio das conferências, em grande parte, resulta em uma aproximação da
sociedade civil com o estado, apesar das discordâncias, disputas e conflitos, próprios da
política; as conferências influenciaram no processo de construção das políticas públicas para a
cultura, ao menos da construção de normas mais próximas dos seus destinatários,
influenciando na própria cultura política, mais participativa, porém, existem grandes barreiras
para implementação das políticas culturais, na medida em que a cultura segue sem ser uma
área prioritária, apesar dos avanços.