Inúmeras evidências experimentais apontam para a existência de correlação positiva entre a exposição a diferentes estímulos estressores e a maior vulnerabilidade à dependência química. Sob o ponto de vista experimental, a necessidade de estressores que refletissem mais fidedignamente a condição humana em modelos animais de laboratório levou ao estudo de situações aversivas como a privação alimentar. Assim, tem sido demonstrado que a privação alimentar seguida da exposição a diferentes drogas de abuso é capaz de potencializar e/ou facilitar a dependência química em modelos animais, que incluem a preferência condicionada por lugar (CPP). Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos da privação alimentar diurna sobre o condicionamento ambiental induzido tardiamente por diferentes drogas com potencial de abuso, frente as abordagens mecanicista, farmacológica e imuno-histoquímica. Para tanto, camundongos Swiss, machos, adultos foram privados de alimentação diurna durante 4 dias. Passados 21 dias do término da privação alimentar, os animais foram condicionados ao etanol, morfina, nicotina ou femproporex e submetidos ao teste pós-condicionamento para avaliação da CPP.Nossos resultados indicam que a privação alimentar diurna foi capaz de induzir maior resistência à extinção da CPP ao etanol e, potencializar a expressão da CPP induzida por nicotina e femproporex. Contudo, parece não ter alterado a sensibilidade ao condicionamento à morfina. Do ponto de vista imuno-histoquímico, o protocolo de privação alimentar diurna mostrou-se capaz de induzir maior imunorreatividade à proteína c-fos no núcleo accumbens, amígdala basolateral, hipotálamo lateral e área tegmentar ventral, imediatamente após o término da privação alimentar, no entanto, essa maior expressão não foi verificada 7, 14 e 21 dias após o término da privação alimentar.Não obstante, do ponto de vista farmacológico o tratamento com SB-334867, aplicado de forma simultânea ao regime de privação alimentar, foi capaz de prevenir os efeitos facilitadores da privação alimentar sobre a preferência condicionada por lugar induzida por femproporex.Tomados em conjunto, nossos resultados sugerem que a privação alimentar diurna foi capaz de aumentar a vulnerabilidade aos efeitos recompensadores da nicotina e do femproporex, ou mesmo aumentar a resistência a extinção do comportamento condicionado ao etanol. Contudo, parece não ter influenciado o condicionamento à morfina. Paralelamente, por meio da imunorreatividade à proteína c-fos foi evidenciada a efetiva participação do núcleo accumbens, amígdala basolateral, hipotálamo lateral e área tegmentar ventral nos efeitos da privação alimentar sobre o condicionamento por lugar a diferentes drogas com potencial de abuso. Ademais, do ponto de vista farmacológico e mecanicista, a administração do antagonista do receptor orexinérgico (OX1R), simultaneamente ao protocolo de privação alimentar foi capaz de impedir o efeito facilitador da privação alimentar sobre o condicionamento por lugar induzido por femproporex, o que sugere não apenas a efetiva participação do sistema orexinérgico na gênese de tais efeitos, mas parece revelar também o eventual benefício terapêutico do SB-334867 na prevenção dos efeitos da privação alimentar sobre o transtorno relacionado ao uso de substância.