Nosso objetivo, neste trabalho, é propor uma anatomia para a vingança e as suas motivações. Pretendemos defender a tese de que as mais variadas paixões podem levar um indivíduo a se vingar, seja pela ambição e pelo sentimento de rejeição, caso de Caim, seja pela motivação passional amorosa e pela defesa da honra, como o faz o prefeito Sizenando Coelho, que inicia uma guerra em um dos romances de Japiassu. De modo objetivo, pretendemos apontar algumas das paixões que alteram a psique da personagem, levando-a a uma nova condição social e identitária, principalmente quando isso ocorre como efeito da busca que um sujeito empreende por um determinado objeto-valor, e este se torna, de algum modo, inatingível a ponto de o sujeito passar a considerar sua impossibilidade como consequência das ações de outros sujeitos que, ao contrário dele, possuem o objeto-alvo de seu desejo. Para realizar essa proposta, adotamos, como suporte teórico, a semiótica de linha francesa, mais precisamente a semiótica das paixões. Essa escolha se justifica porque o estudo das paixões tornou-se - nas últimas décadas - ponto destacado nos estudos Semióticos, Sociológicos e Filosóficos, assim como sempre o foi na psicologia. A semiótica, portanto, passou a interessar-se pelo que ela define como estados de alma do sujeito: efetivamente, pelo estudo das emoções humanas. No entanto, a semiótica define a paixão como um arranjo de elementos linguísticos, vez que essa paixão é vista como uma construção textual, ou uma paixão representada. A partir dessa delimitação, a semiótica tornou-se um método analítico dos mais eficazes para a abordagem do texto literário e para os Estudos Literários.