No Brasil, a maioria das viroses transmitidas por artrópodes (arboviroses) pertence ao gênero Flavivirus, no entanto, aqueles transmitidos por carrapatos são menos estudados do que os transmitidos por insetos. Além dos vírus, outros microrganismos possuem grande relevância em saúde pública. Riquétsias são os principais agentes de zoonoses transmitidas por carrapatos no Brasil, especialmente as do Grupo da Febre Maculosa (GFM), que inclui diversas espécies patogênicas e que são transmitidas por carrapatos. Dentre os diversos biomas, dois foram particularmente degradados no Brasil, a Mata Atlântica e o Cerrado. Diante destes motivos, esta tese compõe-se de três capítulos, que tiveram como objetivo identificar carrapatos vetores em áreas do Cerrado e Mata Atlântica adjacentes a áreas com atividade humana, pesquisando por patógenos causadores de zoonoses, Rickettsia spp. e Flavivirus. No primeiro capítulo, a presença de riquétsias foi averiguada em carrapatos de cães e carnívoros da região de Cumari-GO. Pesquisou-se por esse microrganismo em oito espécies de carnívoros silvestres e em cães domésticos. Duas amostras amplificaram fragmentos do gene ompB, presente em riquétsias do GFM, e ao mesmo tempo amplificaram fragmentos específicos para Rickettsia bellii, que não pertence a esse grupo. Isso demonstra uma possível infecção cruzada, podendo o carrapato manter concomitantemente estas duas espécies divergentes. O segundo capítulo, dados de carrapatos de tamanduás (Myrmecophaga tridactyla e Tamandua tetradactyla) referentes a um período de 18 anos foram analisados, 169 amostras foram avaliadas quanto à presença de riquétsias. Quatro destas amostras exibiram sequência de ompA com 100% de identidade com outras sequências de carrapato Amblyomma nodosum, indicando que Rickettsia spp. do grupo da febre maculosa (SFG) em Amblyomma nodosum estava circulando no entorno da cidade de Uberlândia e estado de São Paulo, podendo outros carrapatos, tais como A. sculptum serem infectados, gerando risco para animais domésticos e seres humanos. No último capítulo, carrapatos de seis áreas, uma pertencente à Mata Atlântica e as outras do bioma Cerrado, foram avaliados quanto à presença de Flavivirus. Nestes locais foram pesquisados carrapatos de doze espécies diferentes, sendo onze da família Ixodidae e um da família Argasidae, estes pertenciam às espécies: Amblyomma sculptum, Rhipicephalus sanguineus, Rhipicephalus microplus, Dermacentor nitens, Amblyomma ovale, Amblyomma dubitatum, Amblyomma parvum, Amblyomma rotundatum, Amblyomma incisum, Amblyomma brasiliense, Amblyomma naponense e Ornithodoros sp. Detectou-se a presença de um flavivírus em carrapatos R. microplus coletados na região de Uberlândia. Estas amostras exibiram aproximadamente 98% de identidade com o Vírus do Carrapato Mogiana (MGTV). Todos os carrapatos que exibiram resultados positivos para flavivírus ou riquétsias, foram coletados em áreas antropizadas, confirmando a importância do estudo de vetores hematófagos na epidemiologia de agentes virais e bacterianos de animais domésticos e selvagens.