Introdução: A Síndrome Pós-Poliomielite (SPP) é uma desordem do sistema nervoso que pode atingir indivíduos que tiveram poliomielite aguda. A dor é um dos sintomas mais frequentes na SPP e seu tratamento baseia-se na reabilitação física, mudança no estilo de vida e tratamento medicamentoso. Diversos medicamentos têm sido avaliados para o tratamento da SPP, sem resultados totalmente satisfatórios. O piracetam é um agente nootrópico que eleva a eficácia energética dos neurônios e melhora as funções cognitivas, enquanto a L-carnitina é um composto que facilita o transporte intramitocondrial de gorduras, gerando energia para o funcionamento muscular. Considerando que a dor na SPP esta relacionada ao uso excessivo e ao desuso muscular, presume-se que a suplementação com L- carnitina + piracetam melhore o desempenho das células musculares e diminuía o quadro de dor. Objetivos: avaliar e caracterizar a dor do paciente com SPP; quantificar, qualificar e investigar a repercussão da dor em aspectos da vida diária; analisar o efeito terapêutico do uso de L-carnitina + piracetam na dor dos pacientes. Método: este foi um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, que comparou o uso da L-carnitina + piracetam ao placebo, no tratamento da dor em pacientes com SPP. O estudo foi realizado no ambulatório de Síndrome Pós Poliomielite da UNIFESP, entre agosto de 2013 e dezembro de 2014. Participaram do estudo 94 pacientes randomizados (2:1), que receberam tratamento via oral, por 180 dias, com L-carnitina + piracetam, ou placebo. Os participantes foram avaliados em três visitas, com a Escala Visual Analógica de Dor, Questionário McGill de Avaliação da Dor e Inventario Multidimensional de Dor. O tratamento estatístico dos dados foi feito com a utilização da ANOVA; teste T-Student Pareado; Correlação de Pearson; Teste de Correlação e P-valor. Resultados: a população era predominantemente do sexo feminino (64,9%) e com media de idade de 48,7 anos (mediana 49 anos, ±6,6). O perfil clínico mostrou participantes com maior frequência de monoparesia (52,2%), que apresentavam dor durante e após atividades físicas (91,5%), tanto em membro acometido pela poliomielite quanto em membros não acometidos (61,9%), com grande frequência de escoliose e/ou encurtamento de membro (79,8%) e artrose (41,5%). Com relação à adesão aos tratamentos para alivio da dor, as orientações domiciliares não eram seguidas por 25,5% da população e 76,5% dos participantes não fazia fisioterapia. A dor do tipo I, II e III estava presente em 37,2% dos pacientes e a média de intensidade de dor foi de 5,1. A avaliação do efeito terapêutico da medicação mostrou que ambos os grupos apresentaram diminuição da intensidade de dor (grupo Ativo: V1=5,0/V3=4,2. p-valor=0,0099; grupo Placebo: V1=5,0/V3=3,8. p-valor=0,03), todavia o grupo Placebo não apresentou melhora na avaliação de atividades funcionais. Conclusão: os pacientes do estudo apresentam dor tipo I, II e III; a dor resulta de
comprometimentos osteomusculares e é agravada pela pouca adesão aos tratamentos terapêuticos. A análise do efeito da L-carnitina + Piracetam indica que a terapêutica é eficiente, visto que os pacientes do grupo Ativo obtiveram diminuição da intensidade da dor e melhora da funcionalidade.