Objetivo: Descrever a prevalência e as características dos transtornos do movimento em pacientes com EM (esclerose múltipla) e NMOSD (doença do espectro da neuromielite óptica) em seguimento no ambulatório de Neuroimunologia da Universidade Federal de São Paulo. Além disto, investigar a associação entre EM, NMOSD, incapacidade, transtornos do movimento e qualidade de vida. Métodos: Foi realizado um estudo de corte transversal com pacientes com doenças desmielinizantes de junho de 2015 a Setembro de 2016. Foram elegíveis pacientes com idade acima de 18 anos e sem comprometimento cognitivo significativo com diagnóstico de EM e NMOSD. Foram avaliados 268 pacientes, 15 foram excluídos. O principal critério de exclusão foi outra possível causa relacionada ao distúrbio do movimento. Os pacientes foram avaliados através de entrevista e exame físico por um neurologista, especialista em transtornos do movimento. Os instrumentos utilizados foram: a EDSS (Expanded Disability Status Scale), a escala de tremor de Fahn Tolosa e Marín, a escala de Ashworth modificada, para avaliação da espasticidade, e o questionário EuroQoL-5 Dimensions, para análise da qualidade de vida. Resultados: Dos 253 pacientes incluídos, 26% apresentaram transtornos do movimento. A maioria dos pacientes era do sexo feminino (74,3%), com média de idade de 40,36 anos (DP=11,74). A mediana do escore de EDSS dos pacientes incluídos foi de 2,5 com intervalo interquartil de 1,0-6,0. A distonia paroxística foi o transtorno do movimento mais comum (n=32), seguido pelo tremor (n=27). A prevalência do tremor na EM foi de 12,5% e o tremor de intenção foi o mais comum (82%). Pacientes com EM e escore de EDSS baixo (<4,0), comparados a NMOSD, tiveram menos transtornos do movimento. A distonia paroxística foi fortemente associada ao diagnóstico de NMOSD (OR=22.07, 95%CI=2.56 - 189.78; p=0.005). A média dos valores de utilidade de qualidade de vida foi 0,58 (DP=0,26). Os pacientes com EM tiveram 0,15 pontos acima em média que os pacientes com NMOSD e os pacientes com distúrbios do movimento tiveram 0,083 pontos abaixo que os pacientes sem estes. Conclusão: A presença dos transtornos do movimento nos pacientes com doenças desmielinizantes parece estar associada à gravidade e progressão da doença. A distonia paroxística é significativamente mais associada com a NMOSD, e pode ser um marcador clínico desta. O tremor de intenção foi o transtorno do movimento mais comum na EM. Foi demonstrado um impacto na qualidade de vida dos pacientes com doenças desmielinizantes e transtornos do movimento.