As secas na região Semiárida são, sobretudo, um acontecimento climático natural e constante, causador de grande interferência na dinâmica desse espaço geográfico. Entretanto, embora o fenômeno climático das secas seja o mesmo, variando somente sua intensidade, os impactos na sociedade têm sofrido mudanças ao longo do tempo. Nesse novo cenário as secas têm modificado a dinâmica urbana de cidades no Semiárido. Nesta perspectiva, o objetivo desse trabalho consiste em analisar os rebatimentos da escassez hídrica na dinâmica urbana de Pau dos Ferros, no período de seca 2012-2017. Desse modo, buscando alcançar tal objetivo, na perspectiva de uma pesquisa de análise crítica, realizamos exploração bibliográfica e documental, analisando a dinâmica urbano-regional de Pau dos Ferros, identificando paralelamente a infraestrutura hídrica e a política de gestão dos recursos hídricos na qual a cidade está inserida. A pesquisa empírica, com foco na dinâmica urbana da cidade em tempo de escassez hídrica, permitiu a coleta de dados, registros fotográficos, seguidos de registro por georreferenciamento, materiais utilizados na compreensão do objetivo proposto. Logo, constata-se que Pau dos Ferros, localizada no Alto Oeste Potiguar, é figura representativa de cidade pequena que exerce funções de cidade média, entretanto, vive um quadro de colapso do seu reservatório de abastecimento, que por sua vez, desencadeou eventos que mudaram a dinâmica da cidade. Todavia, no contexto de seca atual, não há que se falar de falta d’água, sobretudo, a deficiência no planejamento hídrico, especialmente no gerenciamento da barragem de Pau dos Ferros e as políticas públicas de cunho paliativas, tornaram, ao menos nesse quadro de seca, a prestação de serviço público de fornecimento de água pela CAERN, deficitária quanto à demanda requerida pela cidade. Isso provocou o despontamento de um informal “comércio atacadista e varejista de água” em Pau dos Ferros, além de um “boom” no comércio de caixas d’água, movimentando a economia local nesse aspecto. A dinâmica da cidade é alterada pelo vai-e-vem de carros diversos comercializando água, colocação de caixas d’água em praças e bairros periféricos para acesso da população, perfuração de poços artesianos em residências, praças, instituições públicas, comércios, e mobilizações políticas relacionadas à questão hídrica. A análise é significativa na medida em que oferece uma leitura na região Semiárida, da problemática hídrica em tempos de seca no cenário urbano, entendendo ser essa uma construção recente a ser associada às demais leituras históricas da relação entre água e sociedade no Semiárido, permitindo assim ampliação da compreensão dessa problemática em suas nuances.