O câncer de cabeça e pescoço (CA/CP) está entre os dez mais frequentes no Brasil,
atingindo cerca de 1,7% da população. Os tratamentos podem resultar em
deficiências funcionais e estéticas, dependendo da localização e do estadiamento.
As ações educativas precisam ser desenvolvidas para auxiliar o paciente no
processo de adaptação e na geração de habilidades para o autogerenciamento.
Objetivos: construir, validar o conteúdo de um programa educativo alicerçado nos
princípios do autogerenciamento, direcionado aos pacientes com CA/CP, e avaliar a
eficiência deste programa de forma comparativa, e por meio de um estudo de
recepção. Método: estudo de natureza mista, subdividido em três etapas: (1) estudo
metodológico, para a construção e validação de um roteiro destinado ao
desenvolvimento de objetos de aprendizagem, (2) estudo experimental,
randomizado e controlado, para avaliar a intervenção educativa, com base na ação
usual versus a multimídia, por meio dos instrumentos Functional Assessment of
Cancer Therapy – Head and Neck (FACT-H&N) e Escala Hospitalar de Ansiedade e
Depressão (HADS) em quatro tempos transcorridos do início do tratamento ao
período de seguimento (12 meses) e (3) estudo qualitativo, para avaliar o material
educativo desenvolvido, com base nos princípios do estudo de recepção. Os
resultados foram analisados de acordo com o desenho de estudo de cada etapa.
Resultados: na primeira etapa, o roteiro foi aprovado por 99% dos profissionais de
saúde. O teste estatístico kappa free-marginal apresentou valor igual a 0,68%,
conferindo uma substancial concordância, resultando na produção de um manual
impresso e um vídeo educativo. Na segunda, o grupo controle (GC) reportou queda
gradual dos escores de qualidade de vida (QV) nos tempos de avaliação, enquanto
a do grupo experimento (GE) aumentou progressivamente. A prevalência de
sintomas de ansiedade e depressão (AD) foi baixa nos dois grupos, próxima ao
descrito na literatura. A correlação foi significativa entre presença de sintomas de AD
e baixa QV. Pacientes do GC apresentou piora significativa no bem-estar
social/familiar e na prevalência de preocupações adicionais relacionadas ao CA/CP,
enquanto o GE apresentou redução dos sintomas de ansiedade e melhora do bem
estar emocional. Na última etapa, o material educativo foi avaliado de forma
satisfatória para a sequência do assunto, extensão, linguagem e imagens utilizadas.
Os participantes atestaram que os materiais educativos auxiliaram no
desenvolvimento de habilidades para o autogerenciamento. Conclusão: os passos
adotados para a construção e validação do conteúdo e para produção do material
educativo foram efetivas, adequadas e passíveis de reprodutibilidade. Os diferentes
critérios adotados para avaliação do material educativo indicou e evidenciou o
benefício dessa ação educativa. Observou-se que os pacientes optaram por uma
resposta mais adaptativa ao processo de adoecimento. Ademais, a rotina de
avaliação trouxe indicadores que nortearam a atuação em equipe. O material
educativo foi considerado adequado pela população alvo e capaz de gerar
habilidades para o autogerenciamento.