Um dos maiores entraves da ovinocaprinocultura no Nordeste do Brasil é o parasitismo por
nematoides gastrintestinais (NGI). A ocorrência da resistência anti-helmíntica em rebanhos
dessa região, tem favorecido investigações sobre o uso de métodos alternativos, tais como o
tratamento alvo-seletivo e o uso de plantas medicinais, no controle de NGI de pequenos
ruminantes. Assim, objetivou-se avaliar o efeito de bioativos vegetais nas formulações livre e
nanoencapsulada sobre NGI de ovinos. Na etapa 1, selecionou-se Spigelia anthelmia por ter
apresentado os melhores resultados para extratos vegetais investigados pelo Laboratório de
Doenças Parasitárias da Universidade Estadual do Ceará. O decocto de S. anthelmia (DecSa)
foi inicialmente submetido a avaliações fitoquímicas e, posteriormente, utilizado no teste de
eclosão de ovos (TEO), no teste de desenvolvimento de larvas (TDL), teste de motilidade em
adultos (TMA) e na avaliação de alterações cuticulares ultra-estruturais de Haemonchus
contortus por meio de microscopia eletrônica de varredura (MEV). Foram realizados testes de
toxicidade aguda em camundongos e de redução da contagem de ovos nas fezes (RCOF) em
ovinos. O rastreio fitoquímico detectou altas concentrações de taninos condensados,
flavonóides, flavonas, saponinas, alcalóides e xantonas. Os valores de CE50 ± 95% de intervalo
de confiança de DecSa no TEO e TDL foram 1,4 (1,2-1,6) e 1,2 (1-1,3) mg/mL,
respectivamente. O tratamento com 1,6 mg/mL DecSa produziu 100% de inibição da
motilidade de adultos após 12 h de exposição. A MEV revelou alterações ultraestruturais na
região cefálica e na cutícula de fêmeas de H. contortus. No teste de toxicidade aguda, não houve
mortalidade em camundongos na dose de 2.000 mg/kg. O DecSa na concentração de 350
mg/mL reduziu o opg dos ovinos em 47% após 14 dias de tratamento. Na etapa 2, o óleo
essencial de Eucalyptus staigeriana foi nanoformulado com quitosana com vistas a otimizar
seus efeitos sobre NGI de pequenos ruminantes. A caracterização físico-química da
nanoemulsão de E. staigeriana (NanoEs) foi realizada. Posteriormente, realizou-se testes in
vitro para avaliar as atividades ovicidas e larvicidas de NanoEs sobre H. contortus e testes
toxicologicos em roedores. NanoEs inibiu a eclosão de larvas e o desenvolvimento das larvas
em 99% e 96,3% nas concentrações de 1 e 8 mg/mL, respectivamente. O teste de toxicidade
aguda revelou que a dose de NanoEs necessária para matar 50% dos camundongos (DL50) foi
de 1.603,9 mg/mL. Na etapa 3, a avaliação in vivo do NanoEs foi realizada em uma fazenda
comercial, onde 162 ovinos machos e fêmeas, divididos em três grupos (n = 54 cada), foram
tratados durante seis meses a cada 17 dias quando o escore FAMACHA foi 3, 4 ou 5: G- 250
mg/kg de NanoEs; 7,5 mg/kg de levamisol (G-Lev) (controle positivo) e G-Neg não foi tratado
(controle negativo). Realizou-se a contagem de ovos por grama de fezes (OPG) e a identificação
dos gêneros de nematoides mais prevalentes no rebanho. O ganho de peso dos ovinos foi
monitorado. Não houve diferença significativa entre o número de animais tratados e de OPG
nos grupos tratados com NanoEs e levamisol em nenhuma visita (P>0,05). Haemonchus spp.
foi o nematoide mais prevalente em todos os grupos avaliados. Não houve ganho de peso
singnificativo em nenhum dos grupos tratados (P>0,05). Assim, após a execução das três etapas,
conclui-se que os bioativos testados apresentaram eficácia promissora no controle de
nematoides gastrintestinais. Entretanto, novas formulações e testes em condições a campo no
período chuvoso são necessários para validar e otimizar o efeito anti-helmíntico desses
produtos.