Essa tese visa estudar o conceito de repetição (Gjengtagelse), por ele figurar como uma categoria central no pensamento de Kierkegaard, de tal forma que escreve, sob a verve de Constantin Constantius, uma obra inteiramente dedicada ao conceito, intitulada A Repetição. Ao lado desta, ele publica no mesmo dia, 16 de outubro de 1843, outras duas obras: Temor e tremor e Três discursos edificantes de 1843. A leitura dos textos parece indicar que as obras estão articuladas em torno do eixo da repetição, cada qual explicitando a seu modo uma determinada dimensão do conceito. O poeta Johannes de silentio, autor de Temor e tremor, elogia o feito de Abraão, descrevendo o duplo movimento da fé: o absurdo em torno da execução de um sacrifício que não redundaria na perda do sacrificado, mas em sua reconquista, retomada vital. Constantin Constantius, em A Repetição, distingue duas formas de repetição: uma para trás, recordação para trás ao modo grego, e outra para frente, a repetição para diante, que Constantius chamará de "nova filosofia". Os discursos edificantes, que discorrerão sobre o tema: "O amor cobre uma multidão de pecados" e "A confirmação no homem interior", farão uma tematização que privilegia o âmbito de uma experiência religiosa fundamental, introduzindo o homem na dinâmica da interioridade de uma fé só possível no mais ermo da solidão. Todas três obras apontam para o movimento de vida que se mostra subitamente, a cada vez, com o frescor do hálito de um novo homem. Nesse sentido, o trabalho visa aprofundar o estudo da noção de repetição, no modo como ela aparece em cada um dos textos escolhidos.