A presente pesquisa parte da relação entre as dores crônicas musculoesqueléticas e o
histórico de vida de mulheres com dores crônicas, identificando os eventos negativos que
abrangem situações como violências, perdas ou doenças em algum período da vida. Estão
incluídos nessas condições diagnósticos tão diversos como osteoartrites, doenças
reumatológicas e fibromialgia. A dor pode ser definida como uma experiência sensorial e
emocional desagradável associada com um dano tecidual real ou potencial, tratando-se de
uma experiência individual e subjetiva. Existe uma complexa interação de fatores biológicos e
psicossociais que aumentam a probabilidade de que pessoas com histórias prévias de
violência apresentem maior quantidade de problemas de saúde, com maior nível de dor
associado e limitações funcionais decorrentes. Os objetivos do estudo foram analisar as
relações entre a história de vida e a dor em mulheres com dores crônicas, identificando os
sentidos e significados conferidos pelas participantes, além de buscar compreender como
ocorre o manejo da dor crônica, identificando as experiências de atenção à saúde e de
autocuidado. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa, que
se baseou em oito entrevistas em profundidade, construindo narrativas do tipo história oral de
vida. A busca dos sentidos e significados dados pelas participantes à experiência dos
sofrimentos, tanto físicos quanto emocionais, procurou basear-se na concepção da psicologia
sócio histórica e o material foi examinado nos termos na análise de conteúdo. Foram
construídas onze categorias temáticas, sendo destacados trechos das narrativas que mostraram
intenso sofrimento ao longo da vida das participantes, envolvendo violências, doenças e lutos
de familiares. As relações desiguais de gênero surgiram como fonte de sofrimento, além da
exploração do trabalho infantil. Pôde ser observado um longo tempo de convivência com as
dores crônicas antes da busca por tratamentos, com o manejo baseado em um misto de saberes
aprendidos nos contatos sociais e em experiências com os cuidados em saúde, com
dificuldades de compreensão acerca da própria condição, que repercutiram em problemas de
adesão às práticas orientadas. É necessário que as práticas de cuidados em saúde sejam
capazes de acolher os sofrimentos humanos que transcendem a dor em seu aspecto físico, uma
vez que as ações limitadas às queixas somáticas se mostram insuficientes. O estudo
aprofundado sobre os aspectos subjetivos relacionados às dores crônicas possibilita a
construção de cuidados em saúde compatíveis com a perspectiva da integralidade, resultando
em melhor qualidade e diminuição do sofrimento humano.