Introdução: As doenças alérgicas são exemplos de doenças crônicas não transmissíveis presentes desde as fases mais precoces da vida e com notável aumento da incidência nas últimas décadas. Sua ocorrência pressupõe produção pelo sistema imunológico de imunoglobulina E (IgE) a proteínas específicas e o desencadeamento de sintomas clínicos ao entrar em contato com elas. A presença de IgE total (tIgE) elevada está relacionada à presença de IgE específica (sIgE) e a ocorrência de doenças alérgicas. Painéis que incluem alérgenos comuns relevantes a populações, patologias e faixas etárias podem ser úteis para excluir o envolvimento de IgE em indivíduos com suspeição de alergia e facilitar o diagnóstico. O Phadiatop Infant® (PhInf) é um painel com boa performance, desenvolvido para população inferior a 5 anos, que combina os alérgenos mais frequentes entre a população brasileira.
Objetivos: Avaliar o PhInf como método de triagem para doenças alérgicas em crianças brasileiras. Determinar os níveis séricos de tIgE e os de sIgE aos alérgenos constituintes do PhInf nas diferentes faixas etárias e doenças alérgicas estudadas. Avaliar a relação entre os níveis de PhInf e os de tIgE e sIgE realizados.
Métodos: Estudo transversal envolvendo 11 centros de Alergia Pediátrica brasileiros. Pacientes e controles foram divididos em grupos de acordo com a doença principal e faixa etária. Participantes foram submetidos a coleta de
sangue para a mensuração de tIgE, PhInf e sIgE para D.pteronyssinus (Dp), Epitélio de gato, Epitélio de cão, Mix de Gramíneas, Mix de Pólens, Ovo, Leite de vaca, Amendoim e Camarão. Valores de sIgE e PhInf iguais ou superiores a 0,35 KUA/L (ou PAU/L) foram considerados positivos.
Resultados: Participaram do estudo 470 crianças e adolescentes, divididos em 5 grupos de mesma proporção de acordo com doença principal: Rinite alérgica (RA) e/ou Asma, Dermatite atópica (DA), Alergia alimentar (AA), Lactente Sibilante (LS) e Controle. Não houve diferença estatística de gênero:47,7% eram do sexo masculino.A média das idades foi 6,3 anos(variação de 5 meses a 18 anos). Crianças com asma e DA eram significantemente mais velhas que as com AA e LS. A concentração média de tIgE foi 981kU/L, aumentando com a idade até os 4 anos, quando não houve mais diferença estatística entre os grupos etários subsequentes. Com relação à doença principal, DA e Asma apresentaram os maiores níveis. PhInf foi positivo em 72,6% dos indivíduos testados (n=341) com maior proporção de positividade em AA (92,6%), DA (91,9%) e no grupo de doentes maiores que 13 anos de idade (95%). A concordância entre a positividade de PhInf e qualquer um dos alérgenos específicos atingiu níveis elevados entre doentes (Kappa=0,94, p<0,001) e controles (Kappa=0,84, p<0,001). Em relação a cada alérgeno específico, a concordância foi perfeita entre PhInf e Dp nos pacientes maiores de 13 anos (Kappa=0,936, p<0,001). Os níveis de tIgE foram significantemente maiores no grupo com PhInf 0,35 (p<0,001) para todos os grupos envolvidos. Como teste Diagnóstico para atopia, PhInf apresentou boa sensibilidade (S=79%) e moderada especificidade (E=56%) no entanto, se comparado a sIgE, alta S e E: 97% e 93%, respectivamente.
Conclusões: A positividade de Phadiatop Infant® em crianças e adolescentes alérgicos é elevada e apresenta ótima correlação com os alérgenos constituintes dosados separadamente. Pode-se afirmar que PhInf é um método útil na triagem de crianças suspeitas de doenças alérgicas. Níveis de tIgE nos pacientes alérgicos são muito elevados e sofrem influência de idade, tipo e presença de doença são maiores nos pacientes com DA e Asma e menores em LS e controles e aumentam com a progressão da idade.