Esta pesquisa tem como objetivo abordar os conflitos socioambientais, no Parque Estadual da Pedra Branca – uma Unidade de Conservação criada em 1974 no município do Rio de Janeiro. Nessa área vivem cerca de cinco mil moradores, entre os quais, agricultores familiares e habitantes de três comunidades quilombolas. Diante da ameaça de remoção, essa população criou estratégias de resistência e de permanência nesse território – adoção de identidades coletivas, identificação de lugares de memória, participação política nos espaços de debate de políticas ambientais. Neste mesmo cenário, determinadas marcas do sertão carioca foram sendo apropriadas, ressignificadas e oficializadas como atrativos turísticos do parque. Paralelamente, novos elementos foram agregados a essa paisagem – placas institucionais, cancelas, sedes, polo de visitação. Em meio à disputa por legitimação e direito ao território, surge um terceiro ator, a Trilha Transcarioca – uma trilha de longo percurso que atravessa seis unidades de conservação, incluindo o PEPB – ampliando o debate sobre uso público nos parques. O estudo da paisagem, interpretada pelos diferentes atores locais, torna possível a percepção do contexto sócio-histórico de formação da paisagem deste território, assim como os vínculos e sentidos atribuídos ao mesmo. Além da discussão teórica acerca dos conceitos de paisagem e território, do registro da polaridade de olhares e da desnaturalização das interferências realizadas nos parques, a presente pesquisa qualitativa é complementada por entrevistas com os atores locais, participação em eventos, reuniões e festividades, pesquisas documental e bibliográfica. A obra O Sertão Carioca, publicada em 1936, é acionada como importante fonte etnográfica dos modos de vida dessa população laboriosa cujos usos e costumes remetem ao sertão. À medida que os valores ambientalistas associam as belezas naturais à ideia de paisagem, o morador é identificado como um invasor e uma ameaça à conservação desta natureza/paisagem. Nesse cenário, resgatar a história social do maciço e entender que paisagem não é natureza, mas uma construção social, é essencial para a compreensão dos vários sentidos e representações atribuídos a este território transformado em Unidade de Conservação de Proteção Integral.