Introdução: A epidemia da obesidade infantil vem progredindo ano a ano e o Brasil segue a mesma tendência mundial, alcançando um percentual de 6,6% de excesso de peso entre pré-escolares. Esta tendência ocorre devido ao ambiente cada vez mais obesogênico ao qual as crianças estão expostas, fora e dentro de casa. Dentro de casa, a família é a instituição de maior influência no desenvolvimento dos hábitos alimentares da criança. Estudar, portanto, os fatores associados a esse comportamento alimentar que influenciam o consumo, como as práticas exercidas pelos pais, pode ajudar no desenvolvimento de ações mais efetivas visando o controle da obesidade infantil. Objetivos: O primeiro artigo que compõe esta tese teve como objetivo validar e adaptar o instrumento Comprehensive Feeding Practices Questionnaire em uma amostra de pré-escolares (n=402) matriculados em escolas particulares de São Paulo e Campinas. Já o segundo artigo utilizou o questionário validado e avaliou a associação das diferentes práticas, com características socioeconômicas, demográficas, antropométricas, comportamentais e alimentares dos pais e das crianças. Métodos e Resultados: Na primeira etapa, o questionário passou por um processo de adaptação transcultural e análises psicométricas, a fim de adaptar o questionário para a realidade brasileira. Na sequência, foi realizada análise fatorial confirmatória e exploratória, o que resultou em uma versão adaptada, que compreende 43 itens, divididos em 6 fatores. A consistência interna e as validades discriminante e convergente se mostraram adequadas, resultando em um instrumento válido para a mensuração de práticas parentais de crianças pré-escolares no Brasil. Na segunda etapa, foram realizadas análises logísticas univariadas e múltiplas entre os fatores e diversas variáveis das crianças e de seus pais, o que evidenciou que o menor uso de práticas positivas (‘Orientação para uma alimentação saudável’ e ‘Monitoramento’) se associam positivamente com o maior tempo de tela, consumo de ultraprocessados e peso materno. Já o maior uso de práticas restritivas de alimentação se associaram com o menor nível de educação da mãe e maior preocupação quanto ao excesso de peso do filho. Outras práticas coercivas, como o uso de ‘Pressão’ para comer e a ‘Regulação da emoção/Comida como recompensa’, se associaram positivamente com a maior preocupação quanto ao baixo peso da criança, menor peso da mãe (‘Pressão’) e menor escolaridade materna (‘Regulação da emoção/Comida como recompensa’). Conclusões: A validação de instrumentos em diferentes culturas e grupos populacionais se mostra necessário, a fim de se compreender o que os pais fazem, dentro e fora do ambiente doméstico, que pode agravar ainda mais o excesso de peso entre crianças. Além disso, são poucos os estudos que avaliam práticas parentais e suas associações com variáveis da criança e dos pais no Brasil e este estudo contribuiu para a identificação de grupos de risco e o desenvolvimento de políticas e programas que envolvam os pais e os ajudem a promover hábitos alimentares mais saudáveis entre seus filhos.