Introdução: O crescimento da população de idosos é um fenômeno mundial e está associado a alterações profundas na composição corporal. O propósito desse estudo foi descrever a magnitude do problema, avaliar os fatores associados e a relação com a capacidade funcional na população estudada. Objetivos: Identificar os principais fatores associados à presença de baixo índice de massa muscular em indivíduos não obesos com idade igual ou superior a 65 anos, participantes do Projeto EPIDOSO, estimar sua frequência e, avaliar a relação entre baixo índice de massa muscular esquelética e a capacidade funcional e/ou óbito na população em estudo. Metodologia: A população de referência neste estudo foi representada pela população de indivíduos não obesos com idade igual ou acima de 65 anos residentes no bairro Vila Clementino, na cidade de São Paulo. Foram utilizados dados secundários do Projeto EPIDOSO, obtidos nos inquéritos transversais realizados no Centro de Estudos do Envelhecimento da Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foram realizados 2 estudos. Estudo 1: Transversal com dados de 563 idosos não obesos pertencentes ao 1º momento do Projeto EPIDOSO no período de 1991-1992. Foram considerados os valores de índice de massa muscular esquelética obtidos através de dados antropométricos e equação preditiva. Foram investigadas as variáveis: sexo, faixa etária, etnia, estado conjugal, escolaridade, nível de atividade física, histórico médico, déficit cognitivo, quedas nos últimos 12 meses e, capacidade funcional. Para a análise empregou-se regressão logística múltipla com modelo hierarquizado com p<0,05 e IC95%. Estudo 2: Longitudinal composto por amostra de 335 idosos com idade igual ou superior a 65 anos, não obesos e ausência de incapacidade funcional no início da coorte. Foram investigadas as variáveis: sexo, faixa etária, etnia, histórico médico e capacidade funcional. Os valores de índice de massa muscular (IMM) foram obtidos através de dados antropométricos e equação preditiva. A capacidade funcional foi medida por meio de questionário multidimensional estruturado e validado para a população brasileira. Os óbitos ocorridos no período foram investigados com familiares através dos inquéritos domiciliares, em cartórios e registros da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. As estimativas de sobrevida livre de eventos foram calculadas por meio de Curvas de Kaplan-Meier, utilizando o teste de Log-Rank para estabelecer comparações. Utilizou-se modelo múltiplo de riscos proporcionais de Cox para a identificação do efeito independente dos preditores de incapacidade ou óbito com p<0,05 e IC95%. O programa estatístico SPSS 20.0 foi utilizado para todas as análises. Resultados: Estudo 1: 39,4% foram do sexo masculino e 60,6% do sexo feminino. A média etária foi de 74,32 anos (dp=6,17 anos). A frequência de idosos não obesos com baixo índice de massa muscular foi de aproximadamente 14,6%, sendo de 15,8% em homens e, 13,8% em mulheres. Associações significativas com baixo índice de massa muscular foram encontradas no modelo final somente com faixa etária de 75 a 79 anos (ORaj=4,88;IC95%[2,22;10,71]), 80 a 84 anos (ORaj=8,25;IC95%[3,45;19,72]) e 85 anos ou mais (ORaj=7,94;IC95[3,12;10,23]). Estudo 2: O tempo médio encontrado para o aparecimento de incapacidade funcional e/ou óbito foi de 7,1 anos (IC95%=[6,8;7,5]). Na análise bruta, verificaram-se diferenças estatisticamente significativas no tempo até ocorrência de incapacidade funcional ou óbito, por faixa etária (p<0,001), hipertensão arterial (p=0,046), diabetes mellitus (p=0,007) e diferença estatística marginal com índice de massa muscular (p=0,105). Os fatores associados a maior risco de ocorrência de incapacidade funcional foram faixa etária 75 a 79 anos (HR=3,31;IC95%[1,88;5,85]), 80 a 84 anos (HR=4,30;IC95%[2,22;8,31]), 85 anos ou mais (HR=8,22; IC95%[3,87;17,47]) ambas com p<0,001 e presença de diabetes mellitus (HR=1,85; IC95%[1,09;3,12]) com p=0,022. Conclusão: No primeiro estudo, idade avançada principalmente acima de 75 anos foi importante fator na regulação da variável índice de massa muscular. No segundo estudo, o avançar da idade e presença de diabetes mellitus aumentou o risco do idoso apresentar incapacidade funcional.