O exame ultrassonográfico sempre ocupou papel secundário na avaliação dos
campos pulmonares, devido à barreira representada por este tecido aerado à
propagação dos feixes ultrassônicos. No final da década de 90, houve um impulso
da sua aplicabilidade nesta região, devido ao reconhecimento de diferentes artefatos
de reverberação gerados a partir de um pulmão normalmente aerado e quando este
se apresenta com o interstício e/ou alvéolos infiltrados. Por ser um exame de baixo
custo, livre de radiação ionizante, poder ser realizado em posição ortopneica e poder
ser realizado “a beira do leito”, a avaliação ultrassonográfica do tórax ganhou
notoriedade na área do intensivismo. Objetivou-se neste estudo avaliar a
aplicabilidade e os aspectos do exame ultrassonográfico na avaliação de campos
pulmonares de cães sadios e com edema pulmonar cardiogênico agudo. Foram
avaliados 20 cães sadios e 10 cães com insuficiência valvar mitral em edema
pulmonar agudo, de raças e idades variadas, machos e fêmeas. Todos os cães
foram submetidos a exames físicos, radiográficos, ultrassonográficos e
ecocardiográficos. Os animais doentes foram avaliados em três momentos: T0 (na
admissão), T1 (4 horas após o início do tratamento) e T2 (24 horas depois). A
ausculta, a avaliação radiográfica e o exame ultrassonográfico do tórax foram
realizados de forma setorizada, baseados no protocolo de avaliação
ultrassonográfico dos campos pulmonares denominado de Veterinary Bedside Lung
Ultrasound Exam (VetBLUE): entre o 2° e 3°, 4° e 5°, 6° e 7°, 8° e 9° espaços
intercostais, nos hemitórax esquerdo e direito. Para cada região associou-se um
escore de acordo com a alteração observada e um escore final para cada
modalidade de avaliação. Nos vinte cães avaliados do grupo controle, em todos os
espaços intercostais foi de fácil reconhecimento a presença do deslizamento pleural
e do artefato de reverberação causado pela superfície pleura-pulmão (linhas A),
exceto no 2º-3º espaço, onde essas características foram observadas, porém com
maior dificuldade. Sete cães (35%) apresentaram linhas “B” durante a avalição,
porém geralmente o artefato foi observado em apenas um espaço intercostal e no
máximo duas linhas por campo. Esse artefato foi mais observado no hemitórax
direito e a região mais acometida foi entre o 8º e 9º espaço intercostal, porém sem
diferença estatística significativa. No grupo doente, na primeira avaliação do exame
ultrassonográfico todos os pacientes apresentaram linhas B em grande quantidade.
As avaliações aos exames físico, radiográfico e ultrassonográfico apresentaram um
comportamento semelhante ao longo do tempo, demonstrando um escore menor
naqueles animais responsivos ao tratamento. A concordância interobservador para o
exame ultrassonográfico foi elevada, o que demonstra uma boa repetibilidade do
método. Por meio de uma avaliação segmentada de algumas janelas acústicas
pode-se obter uma avaliação do tórax do paciente em um tempo curto, melhorandose
a tomada de decisões no atendimento emergencial. Contudo, esta técnica não
exclui a avaliação por outras modalidades de imagem (exame radiográfico e
tomografia computadorizada), e deve representar uma triagem para aqueles
pacientes com síndromes respiratórias agudas.