A raiva é uma antropozoonose viral de caráter agudo, progressivo e com aproximadamente 100% de letalidade. É transmitida aos homens pela inoculação do vírus rábico presente na saliva de animais infectados. Os gatos domésticos são potenciais predadores de morcegos e sabe-se da circulação do vírus da raiva em populações de quirópteros em ambientes urbanos. A profilaxia pós-exposição da raiva humana, no Brasil, deve ser instituída de acordo com o Manual de Normas Técnicas da Raiva Humana, disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Indivíduos que necessitam de atendimento antirrábico humano, devem passar por anamnese segundo a Ficha de Atendimento Antirrábico Humano. O estudo da profilaxia antirrábica humana auxilia diretamente na gestão do controle da raiva no país, uma vez que, permite conhecer profundamente a respeito da utilização dos imunobiológicos antirrábicos humanos. Objetivou-se avaliar o atendimento inicial da profilaxia pós-exposição da raiva humana, em Belo Horizonte/MG, no período de 2007 a 2016, nos casos em que o gato doméstico foi a espécie agressora, e conhecer possíveis divergências com o recomendado pelo Ministério da Saúde. Através da realização de uma análise exploratória das fichas de 2.589 fichas notificação do atendimento antirrábico humano do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificações), pode-se comparar o tratamento adotado pelo serviço de saúde com o recomendado pelo Ministério da Saúde, além de conhecer o perfil epidemiológico do paciente agredido por gatos, visto que pouco se conhece a respeito da participação desses felinos na epidemiologia da raiva no país. Observou-se que, quando a espécie agressora é o gato, há predomínio de pessoas adultas do gênero feminino com idade entre 20 e 59 anos em 969 (37,4%) fichas de notificação, residentes em área urbana em 2.297 (88,7%), de etnia branca em 676 (26,1%) e em 821 (31,7%) fichas de notificação, os pacientes buscaram atendimento antirrábico com até 24 horas da exposição ao vírus rábico. Em relação às características das lesões, mordedura em 1.956 (75,6%) e arranhadura em 600 (23,2%) fichas, foram os tipos de exposição mais frequentes ao vírus rábico. As regiões anatômicas mais atingidas foram mãos/pés em 1.610 (62,2%) fichas, seguido de membros superiores em 409 (15,8%). Ferimentos em sua maioria foram superficiais em 1.542 (59,6%) fichas e a distribuição de ferimentos entre únicos ou múltiplos foi homogênea. Quanto aos procedimentos adotados pelo serviço de saúde, observou-se que em 2.269 (87,7%) fichas de notificação, havia uso de vacina. O tipo de procedimento mais frequente foi observação do animal associado à vacinação antirrábica humana em 1.468 (56,7%) fichas e o menos frequente foi dispensa do tratamento em 43 (1,7%) fichas. Na análise dos procedimentos adotados pelo serviço de saúde segundo o recomendado pelo Ministério da Saúde, observou-se que em 1.843 (71,1%) fichas havia compatibilidade. Dentre os procedimentos incompatíveis, em 264 (10,3%) fichas, os procedimentos adotados eram excessivos e em 482 (18,6%) eram insuficientes. A respeito dos animais agressores observou-se que em 1.760 (68%) fichas os mesmos foram considerados sadios no momento da agressão e em 1.773 (68,4%) os animais eram passíveis de observação. Entende-se que a prescrição correta do tratamento antirrábico humano e o preenchimento correto das fichas de atendimento, contribuem de forma significativa para melhoria da gestão dos recursos públicos e para a redução do risco de infecção pelo vírus da raiva a seres humanos. Recomenda-se melhorias na ficha de Atendimento Antirrábico Humano, reciclagem frequente dos profissionais de saúde que realizam esse atendimento e uma maior interação entre área médica e a médica veterinária, já que grande parte das análises que devem ser realizadas durante o tratamento profilático antirrábico, envolvem conhecimentos específicos sobre os animais. Além disso, sensibilizar a população a respeito dos riscos e das medidas de controle da doença, uma vez que sem a participação popular, a vigilância da raiva não será realizada em toda sua plenitude