As práticas alimentares infantis compreendem diversos fatores como os alimentos consumidos, sua disponibilidade, influências culturais e midiáticas, mas principalmente são influenciadas pelo conhecimento, vivências e experiências da mãe e/ou cuidador. Tratando-se de crianças acolhidas pelo Estado, estas dependem dos cuidados de diversas pessoas, que trazem em sua prática profissional suas influências culturais e educacionais construídas ao longo da vida, que muitas vezes, não condiz com práticas alimentares adequadas, podendo repercutir negativamente sobre a saúde infantil. Diante deste cenário, o objetivo deste estudo foi discutir demandas e expectativas de profissionais envolvidos com a alimentação infantil de um serviço de acolhimento institucional (abrigo) que atende crianças de 0 a 3 anos, para processos de educação permanente. Nesta investigação, optou-se por uma pesquisa qualitativa, na modalidade estudo de caso, tendo como participantes manipuladoras de alimentos e agentes de proteção social (cuidadoras) atuantes em um serviço de acolhimento institucional. A produção de dados ocorreu por meio de entrevista semiestruturada e observação participante, analisados segundo a técnica de análise de conteúdo, do tipo temática, permitindo a construção de quatro núcleos temáticos, que revelou o perfil dos profissionais envolvidos na alimentação infantil, bem como os saberes e concepções trazidos em sua prática profissional, a compreensão do seu papel no desenvolvimento e crescimento das crianças, as facilidades, dificuldades e limitações da atuação profissional, e por fim, mostrou como ocorre o processo de formação para atuarem com alimentação infantil. Deste modo, as práticas alimentares e de cuidado às crianças adotadas no cotidiano dos profissionais pesquisados são guiadas pelos saberes e concepções pautados em influências socioculturais e na experiência pessoal vivida com a maternidade, caminhando, muitas vezes, na contramão das recomendações nutricionais e alimentares vigentes. Pode-se apreender que as cuidadoras tem dificuldade para diferenciar seu papel profissional com o de mãe, diferentemente das manipuladoras de alimentos, que se percebem como educadoras, atuando ativamente na formação dos hábitos alimentares. Revelou-se a dificuldade que os profissionais tem para enxergar as potencialidades de seu trabalho, assim como identificar que algumas atividades fazem parte da atribuição de cuidador. A presença de cardápio foi considerada como potencialidade e a ausência de material de trabalho e carga horária extensa como dificultadores da atuação profissional. O processo de formação destes profissionais é pautado na perspectiva do ensino tradicional, com ações pontuais fora do ambiente de trabalho, focado na transmissão de informações e procedimentos técnicos, utilizando metodologias de ensino tradicionais. Sendo assim, identificou-se a necessidade do processo formativo destes profissionais serem construído de acordo com as particularidades do serviço, considerando seus saberes e percepções, possibilitando a reflexão crítica sobre a prática profissional e a autonomia do sujeito na construção do seu conhecimento e cidadania.