A coexistência da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e da insuficiência cardíaca (IC) é altamente prevalente, e tanto a DPOC quanto a IC afetam negativamente a condição funcional e a qualidade de vida (QV) dos pacientes. Piores escores em questionários específicos de QV, como o St George’s Respiratory Questionnaire (SRGQ) para DPOC e o Minnesota Living Heart Failure Questionnaire (MLHFQ) para IC, se mostram preditores independentes de mortalidade. Entretanto, não existe na literatura um questionário específico para avaliar a QV em situações
de associação destas duas doenças. Portanto, o objetivo foi verificar se há associação entre a pontuação dos questionários de QV específicos para DPOC e IC isoladas, SRGQ e MLHFQ respectivamente, e a gravidade da capacidade funcional de pacientes com sobreposição da DPOC e IC. Foram incluídos 21 pacientes de ambos os sexos com idade superior a 45 anos, portadores de doença estável, com relação entre volume expiratório forçado no primeiro segundo e capacidade vital forçada (VEF1/CVF) < 0,7 associada à IC estável com fração de ejeção de ventrículo esquerdo ≤ 50%. Avaliou-se a QV pelos questionários específicos SGRQ e MLHFQ e a capacidade funcional pelo teste de exercício cardiopulmonar (TECP), teste da caminhada dos seis minutos (TC6M) e teste do degrau de quatro minutos (TD4M). A maioria dos pacientes era do sexo masculino, idoso, com idade média de 66±8 anos. A média de fração de ejeção foi de 35±8%, 76% dos pacientes apresentava moderada limitação ao fluxo aéreo (GOLD II) e observou-se redução moderada da capacidade de exercício medida pelo consumo de oxigênio no pico do exercício
(VO2pico: 63±15 %previsto) e reduzida distância no TC6M (média de 394 ± 93 metros; 77% previsto), além de 58±13 degraus em média no TD4M. O escore totaldo MLHFQ foi de 24 ± 19 pontos. Com relação ao SGRQ, o domínio mais acometido foi o de atividade (59±22%), e a pontuação total foi de 41±19%. A pontuação do MLHFQ associou-se significativamente com a distância percorrida no TC6M (p<0,05), com a carga no pico do exercício (p<0,01) e com VO2pico em porcentagem do previsto (p<0,05). Em contrapartida, não foi observado associação entre o SGRQ e os testes de capacidade funcional. Concluímos que houve associação entre a pontuação do questionário de QV específico para IC, MLHFQ, e a gravidade da capacidade funcional, avaliada pelo desempenho nos testes funcionais TECP e TC6M, nos pacientes com sobreposição da DPOC e IC