INTRODUÇÃO: Sabe-se que o exercício pode ser imunomodulador, estimulando ou
inibindo a resposta imunológica. Já a hipóxia tem sido descrita como um potente
agente imunossupressor. A hipóxia promove aumento do estresse oxidativo, da
inflamação e danos no SNC; e o exercício físico extenuante pode exacerbar ainda
mais os efeitos da hipóxia. Por outro lado, evidências recentes sugerem que as
suplementações de carboidrato e glutamina podem atenuar os efeitos do exercício
na hipóxia. Desse modo, este estudo pretende avaliar os efeitos da suplementação
com carboidrato e glutamina sobre parâmetros da reposta imunológica inata,
inflamação, estresse oxidativo e dano tecidual no cérebro após exercício na hipóxia
CASUÍSTICA E MÉTODO: Quinze homens fisicamente ativos foram submetidos a
três sessões de exercício até a exaustão com intensidade de 70 % do VO2pico em
uma câmara normobárica (Colorado Altitude Training/12 CAT-Air Unit) simulando
4.500 m de altitude, como segue: (1) Exercício em hipóxia+placebo; (2) Exercício em
hipóxia+CHO (8% maltodextrina - 200mL/20min) e (3) Exercício em hipóxia+GLN (6
dias de suplementação com glutamina (20g/dia) e carboidrato (8% maltodextrina-
200mL/20min) durante o exercício e por 2h na recuperação. Todos os
procedimentos foram duplos cegos e randomizados. A concentração dos parâmetros
plasmáticos, salivares e produção de citocinas por monócitos foram avaliadas antes
da entrada na câmara (basal), após 2h de repouso (pré-exercício), imediatamente
após o exercício (pós-exercício) e após 2h de recuperação permanecendo na
câmara. Após teste de normalidade foi realizada uma ANOVA para medidas
repetidas seguida de post-teste de Tukey considerando nível de significância de p <
0,05.
RESULTADOS: Houve redução na SaO2% após 2h de exposição à hipóxia (p <
0,001) para todas as condições, e no momento pré-exercício vs pós-exercício (p <
0,001) na condição hipóxia. No entanto, após 2h de recuperação a SaO2% foi
parcialmente restaurada nas duas condições suplementadas (p < 0,001). A hipóxia e
o exercício físico pioraram a capacidade dos monócitos responderem ao LPS,
aumentaram a concentração de glicose (p = 0,01), cortisol (p = 0,01), IL-6 (p <
0,001), S100β (p < 0,001), EPO (p = 0,01) e diminuíram o nível de glutamina (p =
0,01). Essas alterações foram parcialmente revertidas pelas suplementações com
carboidrato e glutamina, respectivamente, pela elevação da IL-10 (p < 0,01) e pela
redução IL-1β (p = 0,02) e TNF-α (p = 0,02).
CONCLUSÃO: O presente estudo observou que monócitos não foram capazes de
responder ao LPS após exposição à hipóxia e exercício, assim como tal condição
aumentou a permeabilidade da BHE, porém não foi suficiente para promover
alteração na IgA salivar. Entretanto, a condição suplementada com GLN estimulou a
ação anti-inflamatória, reduzindo a produção de citocinas pro-inflamatórias. Por outro
lado, a suplementação com CHO, e discretamente com GLN, promoveu
modificações no balanço pró/anti-inflamatório estimulando uma resposta antiinflamatória
na mucosa oral.