Objetivos: Investigar fatores associados ao abandono do abrigo social e serviço
pré-natal de gestantes portadoras de doenças decorrentes do uso de álcool e de
outras substâncias psicoativas, atendidas em serviço público, especializado, na
cidade de São Paulo, Brasil. Método: Foram analisados dados dos prontuários de
166 gestantes usuárias de drogas, acolhidas num abrigo social, anexo a uma
maternidade filantrópica. Todas haviam sido atendidas e entrevistadas por obstetra e
psiquiatra no ambulatório pré-natal, através de questionário estruturado, como parte
de um programa criado com o objetivo específico de acompanhar o crescente
número de gestantes portadoras de doenças decorrentes do uso de substâncias
psicoativas e em situação de vulnerabilidade social, durante sua permanência
voluntária no local.
Resultados: 45,2 % (75/166) das pacientes abandonaram o programa, enquanto as
demais ficaram afastadas do uso de drogas e deram à luz na Maternidade. A análise
estatística univariada (Tabela 1) mostrou que a chance de abandono era três vezes
maior naquelas em que o contato com familiar era nulo (OR 3,28 IC 95% 1,73-6,21),
2,60 vezes maior naquelas em que o número de anos de estudo era menor do que 8
(IC 95% 1,27-5,34), 2,38 vezes maior naquelas que possuíam filho ou filhos vivos de
gestações anteriores (IC 95% 1,11-5,10),quase duas vezes maior naquelas cujo
companheiro era também usuário de substâncias psicoativas (OR 1,70 IC 95% 0,89-
3,22), 2,09 vezes maior nas que utilizavam crack diariamente (IC 95% 1,10-3,95) e
2,79 vezes maior naquelas em que ocorria poliuso diário de substâncias psicoativas
(IC 95% 1,05-7,75). Na análise multivariada, a ausência de de contato com
familiares, a ocorrência de companheiro usuário de substâncias psicoativas e o
poliuso diário de drogas permaneceram como variáveis significativas na associação
com a alta taxa de evasão do serviço. Conclusão: o alto grau de abandono pode
ser resultado de múltiplos fatores. As intervenções propostas nos programas prénatais
podem não ser totalmente efetivas na retenção das gestantes nos serviços de
acompanhamento. Porém, a identificação das pacientes de risco propicia
oportunidades de prevenção da evasão.