As neoplasias da tiroide são as mais frequentes do sistema endócrino, sendo o carcinoma papilífero da tiroide (CPT) o mais frequente, que corresponde a cerca de 80% de todos os casos. Embora normalmente apresente um excelente prognóstico, 30-65% dos casos de CPT já apresentam metástase ao diagnóstico.
Alterações nos genes que codificam proteínas que participam da via MAPK (Mitogen-activated protein kinase), tais como mutação no gene BRAF (B-Raf protooncogene, serine/threonine kinase) ou fusões RET/PTC, ocorrem em aproximadamente 75% dos casos de CPT. A presença da mutação V600E do gene
BRAF é o evento genético mais prevalente e tem sido associada com características clínicas mais agressivas como a presença de linfonodos metastáticos e metástase à distância, além de um maior risco de recorrência do tumor. Na tentativa de melhor compreender o processo metastático do CPT, nosso
grupo, através da técnica de SAGE (do inglês, Serial Analysis of Gene Expression) identificou uma série de genes associados ao processo metastático, entre estes LIMD2. LIMD2 codifica uma proteína contendo domínio LIM, e faz parte de um grupo de proteínas sabidamente associadas com processos biológicos importantes no processo de metástase, como organização do citoesqueleto, adesão e motilidade celular, além de regular a transcrição gênica. Desta forma, neste trabalho investigamos a expressão da proteína LIMD2 em uma série de CPTs e metástases para linfonodos, e correlacionamos com variáveis prognósticas associadas com maior agressividade e risco de recorrência. A expressão de LIMD2 foi investigada em 81 casos de CPT (40 metastáticos e 41 nãometastáticos) e 28 metástases pareadas através da técnica de imunohistoquímica. 14 LIMD2 foi expresso em 78% dos CPT e 93% das metástases. Interessante, a maior parte das metástases pareadas apresentaram uma expressão de LIMD2 maior do que os tumores primários. Já que o processo metastático é fortemente associado com a mutação BRAF V600E no CPT, nós investigamos a presença de mutações no exon 15 do gene BRAF nestas amostras. A expressão de LIMD2 foi fortemente associada com a mutação BRAF V600E. Contudo, não observamos nenhuma associação com características clinico-patológicas. Ainda, analisamos a expressão de LIMD2 em duas linhagens celulares derivadas de CPT (BCPAP e TPC-1), duas linhagens derivadas de carcinoma folicular (FTC-133 e FTC-238), e uma linhagem derivada de célula folicular da tiroide normal (Nthy-ori 3-1). Interessante, LIMD2 foi altamente expressa em BCPAP e fracamente expressa em TPC-1, e não foi expressa nem nas linhagens de carcinoma folicular, nem na linhagem normal. Este resultado reforça a associação de LIMD2 e BRAF, uma vez que somente a linhagem BCPAP apresenta a mutação BRAF V600E. Além disso, nossos dados sugerem que LIMD2 pode ser ativado pela via MAPK, visto que TPC-1 apresenta a fusão RET/PTC1.
Com a recente publicação da análise de quase 500 amostras de CPT realizada pelo The Cancer Genome Atlas Research Network (TCGA), identificou-se uma “assinatura gênica” associada aos CPTs com mutação em BRAF V600E e RET/PTC, com uma consequente ativação preferencial da via MAPK, e uma assinatura associada à CPTs com mutação nos genes da família RAS e rearranjos PAX8-PPARG, com uma consequente ativação preferencial da via PI3K/AKT. Essas duas assinaturas foram denominadas BRAF-like e RAS-like, respectivamente. Através da análise dos dados disponíveis do TCGA, verificamos que a expressão de LIMD2 é maior em CPTs BRAF-like quando comparados com CPTs RAS-like. 15 Embora nossos dados, juntamente com a análise dos dados do TCGA, sugiram que a ativação anormal da via MAPK aumenta a expressão de LIMD2, análises adicionais precisam ser feitas para esclarecer essa questão. Contudo, nossos dados sugerem que LIMD2 tem um papel importante no processo metastático do CPT, principalmente em tumores BRAF V600E-positivos.