Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA) possuem uma saúde bucal vulnerável devido às características próprias da infecção. A maior parte dos pacientes convive com a saúde bucal precária, o que é particularmente prejudicial para PVHA. A formação do profissional de odontologia, que é tradicionalmente objetiva, tecnicista e procedimento-centrada – pode ter como consequência insensibilidade/indiferença às demandas subjetivas dos pacientes, especialmente aos que vivem com uma doença infectocontagiosa com complexas interfaces de ordem psicológica, social, emocional, econômica, jurídica, entre outras. Com isto, a proposta da Educação Permanente mostrou-se como um referencial coerente que pode trazer contribuições para mudanças positivas na forma como os envolvidos no processo de cuidado em saúde bucal de PVHA entendem a noção de cuidado e atenção em saúde. Objetivos: Investigar a percepção de adultos vivendo com HIV/Aids, usuários de um serviço ambulatorial em IST/Aids da região da Baixada Santista, sobre a sua saúde bucal, bem como sua percepção quanto ao papel e expectativas estabelecidas com o profissional de odontologia e o tipo de relação de cuidado estabelecido com esse profissional de saúde. A partir da pesquisa realizada, propor uma ação educativa junto aos profissionais de odontologia em geral, especialmente dirigida aos profissionais que atendem pacientes vivendo com HIV/Aids, com o intuito de permitir uma reflexão sobre suas práticas cotidianas, dificuldades e limitações de seu trabalho e, além disso, permitir a construção de práticas assistenciais que contemplem as necessidades singulares desses sujeitos, para além da perspectiva tradicionalmente adotada nesse campo de saber. Metodologia: Utilizou-se do método qualitativo com o uso de várias estratégias de investigação, como a realização de pesquisa documental, grupos focais, entrevistas semiestruturadas e diários de campo. Foram selecionados, em uma amostra de conveniência, de 12 (doze) PVHA do serviço de odontologia de um ambulatório de IST/Aids da Baixada
Santista, em dois grupos: PSBP (PVHA com saúde bucal precária) e PSBA (PVHA com saúde
bucal adequada). Os dados da pesquisa foram categorizados a partir da análise de conteúdo
temática de Bardin (1977). Resultados e discussão: As PSBA apresentaram maior reconhecimento da importância da saúde bucal com noções mais completas e complexas. Entretanto as PSBP, embora apresentem noções mais simples, relataram conhecimento básico
e as consequências da falta de cuidado. Portanto as PSBP tinham acesso às informações, mas não necessariamente adotavam medidas práticas de cuidado bucal. Isso exige uma reflexão quanto aos efeitos efetivos da informação quando a mesma é oferecida de forma puramente
técnica, objetiva ou descontextualizada. Além disso, tanto PSBP quanto PSBA relataram suas
vivências com o HIV, sendo que as PSBP foram unânimes na percepção de que a saúde bucal
piorou após o diagnóstico de HIV/Aids, enquanto PSBA ficaram divididos. Observou-se uma distinção sutil nos discursos quanto ao autocuidado, pois PSBP apresentam maior tendência a
se desmarcarem da responsabilização pela própria saúde bucal, com maior expressão de passividade, medo e vergonha de serem julgados, enquanto as PSBA têm menor tendência à passividade e mais empenho no autocuidado, bem como uma concepção mais crítica sobre os direitos das PVHA. Considerações Finais: A proposta deste trabalho é um rompimento do processo de idealização técnica do cuidado e a possibilidade de olhar para além do órgão-boca, reconhecendo que é preciso permitir que a boca possa também “falar” e, assim, a partir do discurso do sujeito, assumir uma verdadeira posição de cuidado em saúde bucal. Trata-se de uma busca para atender esses sujeitos – alvos do cuidado – naquilo que eles, de fato, precisam e que faz sentido para eles, considerando suas vivências e pontos de vista singulares.