Salmonella spp é um patógeno responsável por grave infecção alimentar que pode ser introduzida na cadeia do pescado, por meio da manipulação e higiene inadequados ou em contato com águas contaminadas, haja vista que não é um contaminante biológico encontrado originalmente no pescado. A segurança microbiológica do pescado é uma preocupação dos consumidores, indústrias e das agências reguladoras em todo mundo pois o pescado pode agir como um veículo para a transmissão de Salmonella spp em toda a cadeia produtiva, sendo uma categoria importante de alimentos no comércio internacional sendo exportados para vários países. Ademais, existe uma preocupação com uso inadequado de antibióticos na aquicultura, resultado do aumento do isolamento de sorovares de Salmonella resistentes e multirresistentes. Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi estudar a dinâmica da dispersão e o perfil de resistência antimicrobiana de Salmonella spp no processamento de tambatinga (Colossoma macropomum x Piaractus brachypomus) in natura resfriada, identificar fatores de risco e rotas potenciais de contaminação cruzada. Para tanto, 30 peixes foram monitorados ao longo de todas as etapas do processamento num abatedouro frigorífico de pescado com os programas de autocontrole implantados, um total de 120 amostras de lavado superficial de peixe foram coletadas e submetidas a análise bacteriológica, PCR e confirmação bioquímica dos isolados que também foram submetidos ao antibiograma. Salmonella spp viável foi identificada em todas as etapas do fluxograma, recepção, pós lavagem com água hiperclorada, pós evisceração/descamação e no resfriamento. A ocorrência encontrada de Salmonella spp no peixe in natura resfriado foi de 6,6% (2/30). Concluímos que Salmonella spp não faz parte da microbiota natural da tambatinga, entretanto o peixe contamina-se no tanque de cultivo e ao longo do transporte até o abatedouro frigorífico, transfere a bactéria para outros peixes isentos de contaminação através da água e/ou gelo. A etapa de lavagem com água hiperclorada realizada na etapa de recepção do peixe deve ser considerada um ponto de controle (PC), pois Salmonella não é eliminada caso o tempo e/ou a concentração de cloro não sejam aplicados corretamente. A evisceração/descamação são etapas do processamento que elevam o risco de contaminação cruzada e dispersão de Salmonella spp no abatedouro frigorífico, no entanto, o perigo pode ser eliminado na etapa de lavagem hiperclorada pós-evisceração, essa etapa deve ser considerada um ponto crítico de controle (PCC) e deve ser monitorada frequentemente, uma vez que nenhuma outra etapa posterior do processamento elimina Salmonella spp do produto. Todas as cepas de Salmonella spp (10) isoladas ao longo da linha de abate foram sensíveis as principais classes de antibióticos usados na clínica médica humana e veterinária. Isso indica que existe grande probabilidade de sucesso clínico, caso estes antimicrobianos sejam utilizados para tratamento de salmoneloses em humanos, causada por uma eventual contaminação através do consumo de tambatinga.