INTRODUÇÃO: As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são as
principais causas de morte no mundo e a hipertensão arterial é reconhecida
como principal fator de risco para morbidade e mortalidade. A hipertensão
arterial ocorre em faixas etárias precoces, e evidências apontam que o padrão
alimentar inadequado verificado entre adolescentes está associado à elevação
dos níveis de pressão. OBJETIVO: Investigar a associação entre consumo
alimentar e pressão arterial em adolescentes estudantes de escola pública do
município de Niterói-RJ. MÉTODOS: Trata-se de um estudo transversal
envolvendo escolares de uma escola municipal de Niterói-RJ. Para a análise do
consumo alimentar, foi aplicado o recordatório de 24h em dois dias não
consecutivos. Também foram coletados dados antropométricos e pressão
arterial em um único momento. O consumo usual de nutrientes, sódio e
potássio, foi estimado partindo-se de dados do consumo atual, utilizando-se o
método proposto pelo National Cancer Institute (NCI), para lidar com a
variabilidade intraindividual. Os itens alimentares foram classificados e agrupados
em 31 grupos, de acordo com semelhanças nas características nutricionais. A
associação entre consumo de nutrientes e pressão arterial foi investigada por
modelos de regressão logística. O pacote estatístico SPSS (v. 21.0) e o software
SAS (v. 9.3) foram utilizados para a análise dos dados. Foi considerada a
significância estatística de <0,05 para todos os testes. RESULTADOS: A amostra
foi constituída de 347 adolescentes, sendo 51% do sexo masculino com média de
idade de 12,7 anos (DP=1,6). Meninas apresentaram maior média de pressão
arterial diastólica (PAD) (p<0,05). Maior percentual de sobrepeso/obesidade foi
observado nos adolescentes que apresentaram PA elevada (p<0,05), com
prevalência de 38,8% de adolescentes acima da mediana para PAS (p<0,05) e
43,8% acima da mediana para PAD (p<0,05). O total de sódio (p=0,012) e potássio
(p=0,0015) consumido pelos meninos foi superior ao consumo de sódio e potássio
realizado pelas meninas. Com relação à razão Na/K, foi observada diferença
estatisticamente significativa quando comparados os adolescentes com PAS abaixo
e acima da mediana (p=0,0071). Os grupos arroz, feijão, bebidas, doces e açúcares,
leite, pães, refrigerantes, carne bovina, aves e embutidos apresentaram maior
percentual de contribuição de sódio. Os grupos arroz, feijão, bebidas, doces e
açúcares, leite, pães, refrigerantes, carne bovina, aves e bolos e biscoitos doces e
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recheados apresentaram maior percentual de contribuição de potássio. Os grupos
dos embutidos, dos pães e da carne bovina estão classificados com maior densidade
de sódio/100g de alimento. Os grupos feijão, carne bovina e aves, estão
classificados com maior densidade de potássio em sua composição. As bebidas
adoçadas e os refrigerantes apresentaram o maior percentual de contribuição de
sódio. Os grupos com maior percentual de contribuição de sódio foram consumidos
em casa, exceto biscoitos salgados e pizzas, com maior consumo na escola. Os
grupos que mais contribuem para o consumo total de potássio também são
consumidos, em maior parte, no domicílio, com exceção do grupo dos pães, mais
comumente consumido no ambiente escolar. As bebidas adoçadas e os refrigerantes
se destacam pela alta contribuição para o consumo total de potássio. Além disso,
são muito consumidos na escola. A razão de chance para a razão Na/K é 0,26
(p=0,0173). Ou seja, a cada aumento da Na/K em 1 unidade, há uma redução de
74% na chance de aumento da PAS acima da mediana (p=0,0173). Com relação ao
sexo, nas meninas, o aumento de 1 unidade de sódio, potássio e razão Na/K está
associado à chance duas vezes maior de apresentar PAD acima da mediana
(p<0,05). Já em relação ao IMC, o aumento em 1 unidade está associado ao
aumento de aproximadamente 12% na chance de apresentar PAS e PAD acima da
mediana (p<0,05). CONCLUSÃO: A classificação de sobrepeso/obesidade está
associada à elevação da pressão arterial. Os resultados encontrados sugerem que os
níveis pressóricos devam ser monitorados em faixas etárias mais precoces, e
políticas de educação nutricional para a promoção da alimentação saudável sejam
implementadas para essa população.