O presente estudo teve como objetivo estudar a estrutura fitoplanctônica, bem como a
influência das variáveis ambientais sobre a dinâmica desta comunidade em três praias
amazônicas do Maranhão, e verificar, através do monitoramento da água da região portuária
da Baía de São Marcos e de lastro de navios que atracaram no Terminal Marítimo de Ponta da
Madeira (TMPM), se está ocorrendo introdução de novas espécies fitoplanctônicas nesta
região costeira do litoral amazônico. Para tanto, foram realizadas coletas dos dados
hidrodinâmicos, hidrológicos e biológicos em três praias de São Luís nos anos de 2008 e
2009, enquanto que na região portuária da Baía de São Marcos foram avaliadas a comunidade
fitoplanctônica e as variáveis hidrológicas da baía nos anos de 2012 e 2013. Para o
monitoramento da água de lastro e a identificação das espécies fitoplanctônicas na água de
lastro de navios que atracaram no TMPM, amostras foram coletadas nos tanques de lastro nos
anos de 2012 a 2014. Nas praias de São Luís foi registrado um total de 177 táxons, sendo
algumas diatomáceas quali ou quantitativamente importantes, dentre elas Asterionellopsis
glacialis (Castracane) Round, Coscinodiscus jonesianus (Greville) Ostenfeld, Dimeregramma
minor (Gregory) Ralfs ex Pritchard e Odontella regia (Schultze) Simonsen. A densidade
fitoplanctônica total (máx. 1274,3 x 103 céls.L-1) e as concentrações de clorofila-a (máx. 20,9
mg.m-3) foram significativamente elevadas nos meses chuvosos. Além disso, a densidade
fitoplanctônica total e das parcelas estudadas (microfitoplâncton e fitoflagelados)
apresentaram diferenças significativas entre as praias estudadas. Na região portuária da Baía
de São Marcos, a comunidade fitoplanctônica apresentou 186 táxons, sendo observada a
ocorrência de Chaetoceros danicus Cleve, Coscinodiscus wailesii Gran & Angst, Pleurosira
laevis (Ehrenberg) Compère e Planctonema lauterbornii Schmidle, referidas pela primeira
vez para a costa maranhense, bem como de alguns representantes de microalgas
potencialmente nocivas e tóxicas. A biomassa fitoplanctônica foi significativamente elevada
nos meses chuvosos (11,6 ± 7,8 mg.m-3), enquanto que a densidade fitoplanctônica não exibiu
padrões sazonais, apresentando picos de densidades em alguns meses do período seco, bem
como em alguns meses chuvosos. Na água de lastro dos navios amostrados foram registradas
215 espécies fitoplânctônicas, sendo a maioria das espécies consideradas oceânicas (36,6%).
Entretanto, várias espécies costeiras, bem como algumas de água doce, ainda não registradas
no litoral maranhense foram também observadas. Espécies consideradas potencialmente
tóxicas, tais como Pseudo-nitzschia pungens (Grunow ex Cleve) Hasle, P. seriata (Cleve)
H.Peragallo e Protoperidinium crassipes (Kofoid) Balech, bem como alguns representantes
de gêneros tóxicos como Alexandrium e Gymnodinium também foram obervados na água de
xiii
lastro. A densidade fitoplanctônica apresentou valores de até 140,4 x 103 céls.L-1 e a
diversidade específica foi alta na maioria dos navios analisados. Para as praias de São Luís, os
resultados obtidos sugerem que a variação na composição e na densidade do fitoplâncton nas
praias estudadas esteve determinada pela interação existente entre o forte hidrodinamismo e o
regime pluviométrico local, modulando as demais variáveis ambientais. Além disso, a forte
influência atropogênica observada nestas praias urbanas também interferiu na dinâmica das
comunidades fitoplanctônicas locais. Na Baía de São Marcos, os principais fatores
reguladores da dinâmica fitoplanctônica foram a salinidade e as concentrações de nutrientes
dissolvidos, as quais estiveram fortemente influenciadas pelo regime pluviométrico e pela
hidrodinâmica local. Além disso, a ocorrência de espécies referidas pela primeira vez para
este litoral, bem como de microalgas potencialmente nocivas e tóxicas sugere a necessidade
de estudos contínuos da comunidade fitoplanctônica da área portuária da Baía de São Marcos.
O monitoramento realizado na água de lastro de navios que atracaram no TMPM aponta para
a possibilidade de introduções de espécies, demonstrando que a água de lastro constitui o
principal processo introdução nesta área. Por outro lado, ressalta-se a importância da
elaboração de estratégias de monitoramento que permitam a identificação e o
acompanhamento de espécies invasoras marinhas presentes na água de lastro de navios que
atracam no TMPM e em outros ambientes amazônicos a fim de mitigar problemas oriundos
da introdução de espécies alóctones na região.