Introdução: O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) atesta
dificuldades dos escolares brasileiros na apropriação da leitura ao final do
segundo ciclo do Ensino Fundamental. O desafio das escolas é oferecer
estratégias para promover o aprendizado e identificar possíveis transtornos de
leitura que podem requerer apoios pedagógicos e/ou clínicos específicos. O
Programa de Resposta à Intervenção (RTI) caracteriza-se por estimulação
controlada do aprendizado no ambiente escolar. Por estimular todos os escolares
com programas cientificamente embasados, previne a interferência dos fatores
externos e, através do monitoramento dos ganhos, identifica oportuna e
acuradamente escolares com transtornos. Objetivo: Elaborar e testar um modelo
de RTI, em sua primeira camada, que envolva a estimulação de habilidades
subjacentes às competências de decodificação leitora. Método: Pesquisa
prospectiva, quantitativa. CAAE - nº 47579715.9.0000.5505, realizada em dois
estudos. O Estudo 1 elaborou um programa de resposta à intervenção a partir de
evidências coletadas em levantamento bibliográfico. O Estudo 2 buscou investigar
a eficácia do programa proposto. Participaram 124 crianças matriculadas de 1º
ano a 3º ano do EF de uma única escola pública do município de São Paulo,
distribuídos em: Grupo Pesquisa (GP) – 62 escolares (30 meninos), primeiro a
terceiro ano, que passaram pela intervenção de RTI; Grupo Controle (GC) - 62
escolares (29 meninos), primeiro a terceiro ano, que não receberam estimulação.
Avaliou-se individualmente (pré e pós-intervenção) o desempenho leitor dos
escolares (taxa e acurácia) em tarefa de palavras isoladas. Resultados: Estudo
1: O programa contou com tarefas destinadas a estimular a discriminação
auditiva, conhecimento morfossintático, acesso fonológico ao léxico mental,
consciência fonológica, conhecimento do código gráfico, fluência leitora e o
vocabulário visual de palavras, e foi construído para aprimorar, em dez sessões
de estimulação coletiva, a decodificação e reconhecimento automático de
palavras. Estudo 2: GP apresentou maiores diferenças de desempenho entre a
avaliação pré e pós-intervenção que o GC quando avaliada a acurácia (GP: média
5,9, dp=0,8; GC: média=3,5, dp=0,8; p=0,014) e escore na leitura de palavras
(GP: média=2,6, dp=0,4; GC: média=0,5, dp= 0,4; p=0,000). Ao considerar os
efeitos em função do ano escolar, a comparação das diferenças de desempenho
entre GP e GC nos momentos 1 e 2 mostrou que o GP mostrou maior aumento de
desempenho para todos os parâmetros de leitura (1 ano: taxa - p=0,020; acurácia
– p=0,023; total de acertos: p=0,004; 2o. ano: taxa - p=0,028; acurácia – p=0,002;
total de acertos: p=0,002). As variáveis que diferenciaram o ganho dos grupos
foram discriminação auditiva (GP: média (dp): 2,04 (1,5), GC: 0,13 (1,5); p=0,000)
e consciência fonológica (GP: média (dp): 1,08 (1,2), GC: 0,61 (1,3); p=0,015)
para escolares de 10 ano, consciência fonológica (GP: média (dp): 1,72 (1,3), GC:
0,40 (1,1); p=0,004) para os do 2o ano. Conclusão: O programa promoveu a
fluência leitora de escolares do 1o e 2o ano do EF. Incrementos significativos foram
observados para a discriminação auditiva, consciência fonológica e
automaticidade leitora com variações em função do ano escolar.