Objetivo: Verificar a influência da qualidade do sono na qualidade vocal. Métodos: Um questionário on-line ou impresso foi disponibilizado para verificar a opinião do sujeito em relação a sua qualidade vocal e do sono. Esse questionário foi composto por 3 partes: 1. Dados demográficos e fatores associados à saúde vocal; 2. Autoclassificação do sono, da voz e da influência do sono na voz; 3. Instrumentos de autoavaliação de sono e de voz, que incluía a Escala de Sonolência de Epworth – ESE, Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh - IQSP e Índice de Desvantagem Vocal, na versão reduzida – IDV-10. Participaram do estudo 862 pessoas: 493 mulheres e 369 homens, com média de idade de 32 anos (idade máxima de 79 anos e mínima de 18 anos). Resultados: A percepção da influência do sono na própria voz, medida pela escala de autoclassificação, apontou relação significante (p<0,050) entre a autoclassificação do sono e da voz. Em outras palavras, se o sono foi autoavaliado como ruim, a autoclassificação da voz foi ruim também para os indivíduos que percebiam influência do sono na voz. Quanto pior a autoclassificação do sono ou a autoclassificação da voz, maiores eram as chances de o indivíduo apresentar alteração segundo a ESE, o IQSP e o IDV-10, o que mostra a influência das autoclassificações sobre os resultados dos instrumentos. A influência do sono na voz tem diferença apenas sobre o escore do IDV-10, sendo que quanto maior a percepção da influência, maior a chance de desvantagem vocal. Em relação aos instrumentos de autoavaliação, o sexo não foi determinante no resultado de nenhum deles. Foram identificados com alteração nos três protocolos - ESE, IQSP e IDV-10, 73 indivíduos (8,5%), enquanto 134 sujeitos (15,5%) não apresentaram desvios em nenhum deles. As variáveis autoclassificação do sono e da voz foram capazes de diferenciar esses dois grupos. Não houve relação entre presença de ronco e pior qualidade vocal. Os fatores que influenciam uma desvantagem vocal são a autoclassificação da voz, o escore total da ESE e a autoclassificação da influência do sono na voz. São protetores (OR<1) a autoclassificação da voz, a autoclassificação da influência do sono na voz e a ausência de sonolência diurna. A presença de sonolência diurna é fator danoso (OR>1) frente à desvantagem vocal.
Conclusão: A qualidade do sono influencia a qualidade da voz, sendo que uma pior qualidade do sono está relacionada a uma pior qualidade da voz. Indivíduos com desvantagem vocal percebem maior influência do sono na voz, e as variáveis que influenciam a desvantagem vocal são a autoclassificação da voz, o escore total da ESE e a autoclassificação da influência do sono na voz. Sujeitos com sonolência diurna têm maiores chances de apresentarem desvantagem vocal.