Objetivos: Verificar as relações entre sintomas vocais, comportamento e habilidades sociais em crianças e adolescentes, considerando a autoavaliação e a avaliação parental. Métodos: Participaram desta pesquisa 748 indivíduos divididos em 3 estudos:1- Validação brasileira do Questionnaire des Symptômes Vocaux traduzido como Questionário de Sintomas Vocais Pediátrico – QSV-P. A validação cumpriu as orientações do Scientific Advisory Commitee of the Medical Outcomes Trust com o teste de medidas psicométricas de reprodutibilidade, confiabilidade e sensibilidade. 32 foram recrutados apenas para a equivalência cultural (16 crianças e adolescentes e seus respectivos pais), 367 crianças e adolescentes, com e sem alteração vocal, entre 6 e 18 anos, e 349 pais/responsáveis responderam a versão final do instrumento. Dentre os respondentes desta versão, 272 participaram do teste-reteste e 32 da sensibilidade. As crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos responderam a versão autoavaliação do QSV-P, e seus pais/responsáveis responderam a versão parental do QSV-P. 2- Indicadores emocionais/comportamentais e habilidades sociais de crianças e adolescentes com e sem alteração vocal. Participaram 575 indivíduos, sendo 347 pais/responsáveis de crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos, que responderam a versão parental do Questionário de Capacidades e Dificuldades (SDQ) e 228 crianças e adolescentes entre 11 e 18 anos, que responderam a versão autoavaliação do SDQ. 3- Correlação entre sintomas vocais, comportamento e habilidades sociais e concordância pais e filhos. Participaram 696 indivíduos, 571 participaram da correlação entre voz e comportamento (343 pais/responsáveis e 228 crianças e adolescentes), 696 participaram da concordância pais e filhos para sintomas vocais e 440 participaram da concordância pais e filhos para comportamento e habilidades sociais. Os participantes responderam o QSV-P e o SDQ em suas versões parental e autoavaliação. Resultados: 1. O QSV-P apresentou confiabilidade e reprodutibilidade aceitáveis para a população brasileira e sensibilidade ao tratamento vocal. As notas de corte são: Versão parental 2,1 e versão autoavaliação 7,6. 2. Crianças e adolescentes com alteração vocal apresentaram escores superiores nos domínios de hiperatividade/desatenção, sintomas emocionais, problemas de relacionamento e problemas de conduta; e nas escalas de internalização, externalização e de dificuldades. Crianças com alteração vocal apresentaram escore inferior para a escala de capacidade, na autoavaliação. Os pais/responsáveis do grupo com alteração vocal relataram problemas de relacionamento que não foram percebidos pelos seus filhos. Já os pais/responsáveis do grupo sem alteração vocal não perceberam sinais de hiperatividade/desatenção, que foram relatados na autoavaliação das crianças e adolescentes. 3. Não houve correlação entre sintomas vocais e habilidades sociais. Houve correlação positiva entre sintomas vocais e dificuldades ligadas a problemas de comportamento do tipo internalizante e externalizante. A concordância entre pais e filhos foi alta para os sintomas vocais e baixa para os problemas de comportamento e habilidades sociais. Conclusões: O QSV-P foi validado para o português-brasileiro, sendo um bom instrumento de autoavaliação vocal, tanto na versão parental quanto na versão autoavaliação. A presença de sintomas vocais, na população pediátrica e adolescente, pode ser um fator de risco à saúde mental, pela presença de escores superiores nas escalas de problemas de comportamento, tanto internalizante quanto externalizante. A correlação entre a autoavaliação e a avaliação parental para sintomas vocais foi elevada e para indicadores de comportamento e habilidades sociais foi insatisfatória.