Atividade econômica de grande importância para a agricultura familiar em Cacoal, a
cafeicultura acompanhou o processo de formação territorial do município, bem como
do estado de Rondônia, devido, principalmente, ao grande fluxo migratório
promovido pelo governo militar no início da década de 1970. Dessa forma, com a
introdução da agropecuária pelos migrantes recém-chegados, passa a haver grande
transformação espacial nessa região de fronteira da Amazônia brasileira. Assim, o
espaço natural foi substituído por um espaço técnico, rompendo com as tradições e
costumes amazônicos predominantes, além de integrar-se à produção de mercado
de outras regiões do país. Atualmente, a cafeicultura tem passado por um processo
de modernização técnica com inovações no manejo da planta, na irrigação e nos
novos cultivares clonais, resultado da atuação dos agentes integrantes do círculo de
cooperação atuantes na disseminação das normas do mercado globalizado do café,
além da transferência de tecnologia. Portanto, a partir dessa introdução técnicocientífica
à produção, a cafeicultura de Rondônia voltou a figurar no cenário nacional
desse mercado, integrando o circuito espacial de produção, tendo Cacoal como uma
centralidade estadual devido à psicosfera criada em torno do município, conhecido
como “Capital do Café”, dentre outros fatores, como: presença do capital comercial;
infraestrutura e agricultura familiar acostumada a essa produção. Diante desse
cenário, esse trabalho tem como objetivo compreender a organização espacial do
município de Cacoal, a partir da modernização técnico-científica da cafeicultura, bem
como identificar o fluxo de sua produção através da participação no circuito espacial
de produção do café e de seu respectivo círculo de cooperação. Nesse contexto,
identificamos em Cacoal um espaço agrícola mais modernizado com novas formas
técnicas, instaladas pelos agricultores familiares para aumentar a produtividade e
atender às exigências dos agentes controladores do mercado do café no circuito
espacial de produção. Por outro lado, apesar dessa modernização técnica, o
agricultor familiar, cada vez torna-se mais subordinado ao capital industrial, ficando
sujeito às variações de mercado. Além dessa reestruturação produtiva e da
subordinação do agricultor familiar, o Estado, através de seus órgãos, tem atuado
como agente do capital, disseminando as suas exigências e ampliando a
participação da cafeicultura em escalas nacional e internacional. Nesse sentido,
apesar da manutenção da estrutura agrária familiar na produção dessa commodity,
de forma dialética há um uso corporativo do espaço, em que prevalecem os
interesses do capital sobre os interesses dos agentes locais.