A demodiciose canina é uma dermatopatia parasitária inflamatória que ocorre com frequência na rotina dermatológica veterinária e é resultante da proliferação anormal do ácaro comensal Demodex canis nos folículos pilosos e glândulas sebáceas. Acomete cães jovens e adultos e de acordo com a extensão das lesões pode ser caracterizada como localizada ou generalizada. Os quadros de doença localizada são geralmente autolimitantes e evoluem para a cura. Por sua vez, a forma generalizada da doença requer terapia acaricida prolongada associada, por vezes, a antibioticoterapia. Por se tratar de um ácaro comensal, o motivo pelo qual as manifestações clínicas da doença ocorrem em apenas alguns animais, bem como o fato de alguns desenvolverem demodiciose localizada e outros a forma mais grave da doença, ainda não foi elucidado. O objetivo deste estudo foi determinar a densidade de D. canis na pele de cães com demodiciose localizada e generalizada e avaliar a resposta imunológica pelas concentrações de citocinas séricas, além de observar os aspectos clínicos e histopatológicos das duas formas de apresentação clínica da doença. Cinquenta e quatro cães divididos em: demodiciose generalizada (DG), demodiciose localizada (DL) e grupo controle (GC) foram submetidos a raspado de pele, coleta de sangue e biopsia cutânea. A densidade de D. canis na pele dos caninos deste estudo foi estabelecia pelo qPCR, as concentrações de IL-1β, IL-6, IL-8, IL-10, IL-12 e TNF pela citometria de fluxo e as lesões de pele foram observadas ao exame histopatológico. Alopecia, descamação, eritema e crostas foram as alterações clínicas mais observadas e a gravidade das lesões histológicas cutâneas nos cães foram comuns aos grupos DL e DG, com predominância de perifoliculite. A densidade do ácaro foi estatisticamente maior na pele dos cães dos grupos DL e DG que em caninos saudáveis. Ainda, a IL-6 foi evidenciada em níveis elevados no soro de cães do grupo DL em relação ao GC. Por fim, não foi possível observar correlação entre a densidade cutânea de D. canis e os níveis de citocinas séricas nos caninos deste estudo. Diante dos resultados foi possível concluir que a piodermite tende a ser o fator desencadeante da inflamação microscópica dermal grave na demodiciose e que através do exame histopatológico não é possível diferenciar ambas as formas clínicas da doença. Além disso, o qPCR demonstrou ser um importante método para a obtenção da densidade de D. canis na pele de cães, estando a quantidade de ácaros diretamente relacionada à ocorrência de lesão clínica. Por fim, a IL-6 demonstrou participar na indução de resposta inflamatória de fase aguda em caninos com demodiciose localizada, todavia, a atividade de IL-8, IL-1β, IL-6, IL-10, TNF e IL-12 não pareceu ser influenciada pela quantidade de D. canis na pele do hospedeiro.