Neste trabalho nos propomos a investigar o mal-estar existente entre os educadores de creche em decorrência da percepção de indícios de violência sexual incestuosa entre seus alunos. O tema do incesto está assentado no campo do tabu em função das restrições sociais e da ambivalência psíquica envolvendo a proibição e o desejo inconsciente para sua violação. No que concerne às proibições, destacamos o mecanismo da denúncia de suspeita ou confirmação de violência sexual. Embora exista um "dever" preconizado na lei do Direito para que o educador faça a denúncia, há algo que transcende a necessidade imperiosa do denunciar. O fenômeno da violência sexual é atravessado pelo campo simbólico do discurso social e pela subjetividade do próprio educador em torno do assunto: suas crenças, valores morais, vivências e, sobretudo, as marcas inconscientes que envolvem singularmente sua relação com o tema. Esse atravessamento possibilita a instauração de um mal-estar no ambiente da escola. Para esta pesquisa entrevistamos cinco educadores de creche, utilizando como referencial teórico a psicanálise freudiana ─ atravessada por alguns pós-freudianos ─ e suas possibilidades de atuação fora do setting terapêutico tradicional. Percebemos que nas entrevistas com esses sujeitos algo de um mal-estar emergiu ligado a uma espécie de interdição da fala sobre o fenômeno da violência sexual, encontrando somente o sussurro como possibilidade de articulação pela linguagem.