A partir do amplo campo de pesquisas em torno da educação infantil que temos visto se desdobrar ao longo do tempo, algo mais profundo serviu de inquietação para esta pesquisa: uma concepção de educação que não se deixa capturar por completo, mas que diferente disso, abre-se às singularidades que as crianças apresentam nas suas formas de ver e inventar o mundo. Assim, o terreno no qual desenvolvemos nossas reflexões consistiu na dimensão estética de um processo de formação a que uma instituição educativa sempre se propõe. Mais do que isso, a problemática que indicava nossos caminhos se concentrava em refletir sobre: como são essas instituições? Como elas refletem e/ou apresentam a proposta educativa que ali se desenvolve? Se por muito tempo o espaço educativo foi visto com certa “neutralidade”, pensar a dimensão estética requer interpretá-los a partir de suas características simbólicas, de pensá-los como lugares (AUGÉ, 2012). Dessa forma, pensar sobre como os lugares educativos se abrem às experiências estéticas na educação infantil, se transformou em nosso objetivo geral. Tarefa essa (não muito fácil) que exigiu que adotássemos um percurso metodológico que nos permitisse aprofundar tais questionamentos. Para tanto, a pesquisa do tipo Estudo de caso (YIN, 2015), nos ofereceu essas possibilidades. Considerando que nossas intenções, apesar de atentarem à determinadas singularidades não pretendiam se tornar individualistas, optamos por ampliar nosso universo de pesquisa à três instituições indicadas como referências por suas respectivas secretarias municipais de educação – sendo uma de cada um dos três maiores municípios de Santa Catarina – e transformar nossa investigação no que Yin (2015) propõe como um estudo de casos múltiplos. A captação de dados se deu em dois momentos: o primeiro no qual privilegiamos a entrevista semiestruturada como ferramenta, na quais analisamos os argumentos de indicação de cada secretaria a partir de categorias conceituais; o segundo, no qual foram feitas visitas in loco para observação, utilizamos a fotografia e as anotações de campo, analisando tais dados também a partir de categorias conceituais vinculadas a nosso referencial teórico. A partir das análises aqui desenvolvidas, pudemos perceber de maneira mais ampla que os lugares educativos têm cada vez mais tomado a criança como centro em sua concepção. Entretanto, com a dificuldade em lidar com a alteridade que corresponde à infância, a opção de transformação e/ou preparação desses lugares parece tomar por referência uma criança idealizada, ou uma imagem de infância globalizada (SARMENTO, 2001). Ademais, ao voltar nosso olhar para determinados elementos, mais sutis e/ou muitas vezes “naturalizados” nos foi possível evidenciar aberturas às experiências estéticas, fissuras nas quais acontecem as negociações entre adultos e crianças, crianças e crianças, adultos e adultos, que põe em jogo o visível, o dizível e o pensável (RANCIÉRE, 2005), posicionando e reposicionando, sujeitos, ações sociais, identidades. Ainda que tal pesquisa apresente mais questionamentos do que soluções, essa talvez seja sua verdadeira potência e sua grande contribuição. Refletir sobre a dimensão estética é apegar-se mais ao caminho do que à chegada, e pensá-la no processo de formação humana que envolve a infância nos exige mais delicadeza e respeito às crianças como seres de direitos, pois elas não “serão” alguém, elas já “estão sendo”.