Neste texto, busco compreender as trajetórias afetivossexuais de estudantes, provenientes de países da América Latina, que vêm a Belo Horizonte por meio dos programas de intercâmbio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Parti de duas questões de pesquisa: como a construção social do intercâmbio e as trajetórias afetivas dos/as estudantes na sociedade de origem articulam-se às experiências locais em Belo Horizonte? Quais são as experiências afetivossexuais que os/as estudantes se envolvem no decurso de sua estadia? Inicialmente, por meio de observações flutuantes e entrevistas, realizei uma imersão etnográfica no universo das moradias universitárias da UFMG (MOP I e II). Havia algumas práticas disciplinares nesse contexto, restrição da entrada de visitantes, arquitetura panóptica, inspeções dos seguranças, que eram suplantadas mediante a circulação de dádivas, empréstimos de nomes, colchões e chaves, transmitidos entre os/as intercambistas e os/as moradores/as. Essa troca de objetos e favores permitia que as experiências afetivossexuais fossem vivenciadas mesmo com o controle disciplinar nas portarias das MOP I e II. Por meio da convivência nas moradias, os/as intercambistas e os/as demais residentes construíram uma trama de vínculos e interdependências, forjando, por vezes, relações familiares simbólicas entre si e/ou se distinguindo em grupos. Além da relevância das moradias na vida desses/as intercambistas em Belo Horizonte, acompanhando as suas trajetórias afetivossexuais desde as sociedades de origem, pude averiguar que eles/as perpassam por processos de individualização diversos, devido a um conjunto de circunstâncias experienciadas durante o intercâmbio: sair da casa dos pais, aprender um novo idioma, forjar novas maneiras de ser relacionar afetivossexualmente, estabelecer limites ao tecer vínculos, formar gostos pessoais, entre outros aspectos. Através da sociabilidade “mopiana”, os/as intercambistas romperam laços afetivos de outrora, manejaram em contextos com gramáticas sociais distintas, e alguns/algumas deles/as chegaram a se reinventar, construir outra concepção de si mesmo, no decurso do intercâmbio.