OBJETIVOS: As doenças cardiovasculares, especialmente a doença isquémica do
coração e o acidente vascular cerebral são responsáveis pela maior parte das mortes
em todo o mundo. A adoção de estilo de vida sedentário e acesso a alimentos
industrializados determinou aumento de distúrbios metabólicos e maior risco
cardiovascular. Surgiu o conceito de síndrome metabólica (SM) que, em pacientes com
síndrome coronária aguda (SCA), também se associa a maior grau de obstrução
anatômica. Apesar da forte influência ambiental, a SM pode ser influenciada em cada
um de seus componentes por variantes genéticas. Polimorfismos relacionados ao
metabolismo lipídico, oxidação de lipoproteínas, aumento da pressão arterial e
reatividade vascular podem interagir com condições ambientais e determinar maior
gravidade da aterosclerose coronária em portadores de síndrome metabólica, podendo
atuar sinergicamente, ainda que sua contribuição individual possa ser mais restrita.
Assim, o objetivo do estudo foi o de examinar a contribuição de polimorfismos genéticos
para maior gravidade da doença coronária em indivíduos portadores de SM e recente
SCA.
MÉTODOS: Foram avaliados prospectivamente 116 pacientes de ambos os sexos, com
três ou mais critérios para SM (NCEP III) no período de hospitalização após uma SCA.
Neste estudo transversal, foram realizadas avaliação clínica, de parâmetros
laboratoriais, inflamatórios, da hemostasia, TBARS (substâncias reativas ao ácido
tiobarbitúrico), adiponectina e função endotelial (FMD). A extensão e gravidade da
doença coronária foram avaliados pelo escore de Gensini. Os polimorfismos dos genes
da paraoxonase-1 (PON-1), metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR), óxido nítrico
sintase endotelial (ENOS), enzima conversora da angiotensina (ECA), receptor tipo 1 da
angiotensina II (AT1R), apolipoproteína C3 (APOC3), lipoproteína lipase (LPL) foram
analisados por PCR-RFLP, sendo os dados apresentados de acordo com os genótipos.
Análise estatística utilizou qui-quadrado de Pearson ou teste exato de Fisher para
comparar variáveis categóricas e testar desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg. As
variáveis numéricas foram comparadas pelo teste t de Student ou Mann-Whitney, além
de teste de correlação de Pearson. Considerou-se o nível de significância para valores
de P < 0,05.
RESULTADOS: Foram avaliados 116 pacientes portadores de SM na fase hospitalar
após uma SCA, com idade 56 + 9 anos, sendo 68% homens. Os polimorfismos dos
genes PON-1, MTHFR e ENOS não se encontravam em equilíbrio de Hardy-Weinberg
na população estudada. Vários genótipos estudados estiveram associados com
variáveis clínicas ou laboratoriais, como frequência cardíaca, pressão arterial diastólica,
proteína C-reativa, hemoglobina glicada, adiponectina, proteínas envolvidas na
coagulação ou fibrinólise, além de algumas associações com hormônios ou enzimas
hepáticas e musculares. Apenas o genótipo DD do polimorfismo D9N da lipoproteína
lipase se associou com lesões coronarianas de maior gravidade e extensão. O escore
genético foi maior nos pacientes com escore de Gensini < P50 (13,7 + 1,5 vs. 13,0 +
1,6, P=0,066). Houve fraca correlação inversa entre o escore genético e o de Gensini
(R=-0,194, P=0,078).
CONCLUSÃO: Os polimorfismos estudados tiveram pequena contribuição para a
extensão e gravidade da doença arterial coronariana. Apenas o polimorfismo D9N da
lipase lipoproteica contribuiu para maior gravidade da doença coronarina em pacientes
com síndrome metabólica com recente síndrome coronariana aguda. Análise
combinada dos polimorfismos analisados apresentou fraca associação com a gravidade
da doença coronariana, sendo a doença tanto mais grave quanto menor o escore
genético.