O estudo foi realizado em Juatuba, Minas Gerais, cujos dados anteriores de casos das leishmanioses humana e canina apontam para um perfil complexo dessa doença no município. Objetivou-se estudar a fauna flebotomínica, os aspectos epidemiológicos, climáticos e ambientais relacionados à transmissão das leishmanioses no município, além de correlacionar as variáveis de estudo com a prevalência de leishmaniose visceral canina (LVC). Foi realizado um estudo epidemiológico prospectivo de coleta sistemática de flebotomíneos e inquérito sorológico canino no período de abril de 2015 a março de 2016. O estudo entomológico foi realizado em duas áreas de estudo, a saber: Área 1 – Satélite, contemplou os bairros Satélite I e II e Área 2- Vila Maria Regina (VMR), contemplou os bairros VMR I e II. Foram instaladas 24 armadilhas luminosas em 12 residências distribuídas nas duas áreas de estudo. Em cada ponto de captura foram instaladas duas armadilhas, localizadas no intradomicílio e peridomicílio. As coletas se deram de maneira sistemática, na última semana de cada mês, durante 12 meses. Para análise dos aspectos climáticos, utilizou-se a correlação simples de Spearman para cada par de variáveis e para análise espacial foram utilizados a estimativa de Kernel, a função K e a lógica Fuzzy. Para determinar a taxa de prevalência de LVC, foram coletadas amostras de sangue de cães das duas áreas estudadas para realização do teste diagnóstico de triagem TR-DPP e teste diagnóstico sorológico confirmatório ELISA. Em relação ao estudo entomológico, foram capturados 431 flebotomíneos, sendo 69% machos e 74% do total provenientes do peridomicílio. A espécie Lutzomyia longipalpis foi capturada em maior número (44%). Em relação à infecção natural, das 89 fêmeas submetidas a análise por PCR, 5,6% apresentaram positividade à infecção por Leishmania spp.. Dessas, 100% das fêmeas apresentaram-se infectadas por Leishmania infantum e pertenciam ao VMR. Em relação aos fatores climáticos, a variável temperatura média apresentou correlação positiva (p<0,05) com a variação da densidade vetorial mensal e a umidade relativa apresentou correlação negativa (p<0,05). A variável precipitação mensal apresentou correlação negativa em relação à densidade vetorial mensal, sem significância estatística. O inquérito canino foi realizado em 1.752 cães, 1163 foram do Satélite e 589 do VMR, com a taxa de prevalência de 4,12% e 7,13%, respectivamente, com diferença significativa entre as áreas. As duas áreas do município apresentaram condições ambientais favoráveis para a manutenção das leishmanioses, sobretudo da LVC, com o encontro de Lu. longipalpis, presença da infecção canina e detecção de Le. infantum em vetores, indicando que a interface parasito-reservatório-vetor está ativa nas áreas estudadas. As ações de vigilância e controle devem ser direcionadas principalmente ao VMR, uma vez que apresentou sítios de reprodução vetorial e as análises indicaram ser uma área mais favorável ao acometimento da leishmaniose visceral, devido a maior densidade vetorial, maior positividade canina, presença da infecção vetorial por Le. infantum e condições ambientais com elevada presença de fatores de risco.