A presente dissertação trata da questão do pensamento na obra de Friedrich Nietzsche. Seu objetivo consiste em indagar pela possibilidade de um modo de pensar que já não se norteasse por aquilo a que Nietzsche chamou a “vontade de verdade”, pretendendo caracterizar com essa expressão uma diretriz comum a toda a tradição filosófica que o precedeu. Porém, em sua reflexão sobre o pensamento, Nietzsche se distingue da tradição, de forma ainda mais profunda, pelo modo como compreende a própria natureza dessa atividade, ou seja, a gênese e o caráter do ato mesmo de pensar. Nesse sentido, o primeiro capítulo será destinado a apresentar essa diferença. O ponto central dessa questão reside na ideia de uma relação essencial entre pensamento e corpo, graças à qual o pensamento passa a ser considerado segundo seu caráter sintomático, em relação intrínseca com a dinâmica da afetividade humana. Como se descobrirá, porém, Nietzsche pensa essa dinâmica por meio de uma teoria tipológica das suas manifestações fundamentais, que respondem, assim, pela distinção tão célebre em sua obra entre um tipo de homem nobre e um tipo de homem escravo. Por isso, a questão do pensamento, dos seus modos possíveis de exercício, precisa ser articulada com essa teoria, de tal modo que a pergunta por uma nova forma de pensar mostra-se intrinsecamente ligada à pergunta pela dinâmica de afetividade onde ela se faria possível. Com isso se delineiam os objetivos dos dois próximos capítulos: no segundo, trata-se de perguntar pela relação entre o pensamento e o modo de existência escravo, ou, mais exatamente, pelo sentido e o papel da vontade de verdade na dinâmica vital daquilo que Nietzsche chamou “ressentimento”. Por fim, no terceiro capítulo passa-se finalmente à consideração de um novo modo de pensar, tal como este encontraria seu lugar na dinâmica de uma existência nobre, onde a vida esteja organizada em torno do esforço de autossuperar-se.