Introdução: Com o aumento do número e sobrevida de receptores de transplante de órgãos sólidos (RTOS), observa-se demanda crescente por serviços ambulatoriais e hospitalares especializados no acompanhamento destes pacientes. Alterações dermatológicas são muito prevalentes entre indivíduos hospitalizados e podem representar manifestações de doenças sistêmicas potencialmente graves, sobretudo em imunocomprometidos. A literatura abordando a atuação da Dermatologia no ambiente hospitalar é escassa e não foram encontrados trabalhos avaliando, especificamente, a interconsulta dermatológica entre RTOS. Objetivo: Analisar o atendimento da interconsulta dermatológica a receptores de transplante renal (RTR) hospitalizados em um serviço brasileiro terciário de referência em transplante renal (Hospital do Rim e Hipertensão – HRH). Métodos: Trata-se de estudo clínico, observacional, retrospectivo e descritivo. Foram incluídas todas as avaliações dermatológicas solicitadas para RTR internados no HRH durante 36 meses consecutivos. O levantamento foi realizado por meio da consulta a banco de dados e prontuários. Resultados: Foram realizadas, no período, 180 interconsultas, sendo 176 para RTR. Os quatro pacientes não-RTR foram excluídos das análises. Houve predomínio de pacientes jovens (média ± desvio-padrão: 46,9 ± 15,6 anos) e do gênero masculino (64,2%). Na maioria dos casos, a queixa havia surgido previamente à admissão (71,6%) e tinha duração de até 30 dias (59,7%). Dermatoses infecciosas representaram mais da metade dos casos (52,3%), seguidas pelas doenças inflamatórias (14,2%), neoplasias (12,5%) e reações adversas cutâneas a medicamentos (8,5%). Herpes simples, dermatofitose e prurigo foram os diagnósticos mais frequentes. Foram observadas algumas diferenças em relação a outras casuísticas, provenientes de hospitais gerais, como: maior proporção de dermatoses infecciosas e neoplásicas; menor proporção de dermatoses inflamatórias; maior porcentagem de pacientes para os quais foi indicada biópsia de pele (40,3%); menor proporção de avaliações nas quais uma única visita foi suficiente (43,8%) e maior proporção de casos em que foi necessário tratamento sistêmico para o quadro dermatológico (45,5%). Houve concordância diagnóstica entre a equipe solicitante e consultora em 38,1% dos casos. Em 11,4% das avaliações, a interconsulta dermatológica resultou em modificação do diagnóstico da internação. Apesar de a maioria das solicitações terem sido motivadas por afecções com importância secundária em relação ao quadro clínico principal, considerou-se, subjetivamente, que o atendimento tenha sido extremamente relevante ou importante em 75% dos casos. Foram observadas condições dermatológicas relativamente incomuns em outros contextos, o que reforça o potencial didático dos atendimentos realizados. Conclusão: RTR hospitalizados apresentaram demandas específicas do ponto de vista dermatológico, com diferenças em relação a amostras provenientes de hospitais gerais. Houve maior proporção de casos submetidos a biópsia de pele, com indicação de tratamento sistêmico e que necessitaram de reavaliações durante a internação, o que sugere maior grau de complexidade. Diferenças clínicas e epidemiológicas também foram observadas, como a maior proporção de dermatoses infecciosas e neoplásicas. Apesar da predominância de condições dermatológicas comuns e não relacionadas ao diagnóstico da internação, as especificidades da população hospitalizada, bem como a baixa proporção de concordância diagnóstica entre equipes solicitante e consultora, justificam a necessidade de acesso à interconsulta dermatológica em serviços hospitalares de elevada complexidade, como o HRH.