Este trabalho trata da análise do filme Otesánek (O comilão Otik, 2000), do diretor tcheco Jan Švankmajer, a partir da ótica da infância e da vilanização infantil. Atualmente, há uma discussão em nossa sociedade sobre a redução da maioridade penal. Em geral, a criança e o adolescente ocupam um espaço privilegiado em nossa cultura, um espaço de proteção e cuidado; porém, este espaço é ameaçado por alguns poucos, que veem crianças como monstros. O objetivo deste trabalho é ponderar sobre a contribuição do filme Otesánek, de Jan Švankmajer, para o debate sobre a vilanização da infância. A metodologia utilizada neste trabalho é a da análise fílmica e, como instrumento de análise, são utilizadas as categorias inadaptado, como um indivíduo “culturalmente cassado” (2011, p. 277), de Margaret Mead; infantil, como um espaço que “não somos mais, não queremos e não devemos ser mais” (2004, p. 321), de Sandra Mara Corazza; e monológico e reflexivo, como um discurso único que não constrói significações (2006), de Mikhail Bakhtin. Para Švankmajer, o incremento da violência infantil não é um produto de escolhas individuais, mas a aceitação acrítica a demandas sociais. E a resposta não é revogar a condição de infantil da criança, mas compreender e aceitar as diferenças e parar de tratar a todos a partir do mesmo padrão. Para ele, a resposta é não tratar a criança como um adulto e compreender as diferenças entre o adulto e a criança, aceitando-as e deixando de analisar a criança com base no padrão do adulto.