Introdução: Crianças expostas ao HIV não infectadas (ENI) apresentam risco aumentado de doenças crônicas não transmissíveis devido às exposições na vida intrauterina. As práticas alimentares, com ingestão excessiva de açúcar de adição e o consumo frequente de alimentos ultraprocessados (AUP) aumentam o risco de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis. No entanto, poucos estudos avaliaram o consumo alimentar de crianças de ENI. Em uma amostra de crianças expostas ao HIV acompanhadas pelo programa de triagem do HIV da Universidade de Miami determinou-se: i) fatores dietéticos associados ao ganho de peso rápido (GPR) desde o nascimento até 6 meses; e ii) a proporção de crianças entre 6-19 meses que consumiu açúcar de adição em excesso e a contribuição dos grupos de alimentos para a enregia total da dieta e energia proveniente de açúcar de adição. Métodos: Dois manuscritos foram produzidos a partir de dados oriundos de uma avaliação longitudinal do crescimento e consumo alimentar de crianças ENI: i) análise de regressão logística foi utilizada para determinar os fatores da dieta associados ao GPR; ii) cada alimento consumido (n = 286) pelas crianças ENI de 6-19 meses foi convertido em energia e classificado em um dos quatro grupos do sistema NOVA, que classifica os alimentos segundo o processamento industrial. Resultados: 86 crianças ENI nascidas a termo, com idade média de 3,4 ± 1,8 meses, foram incluídos na primeira análise. GPR foi observado em 39,5% das crianças. Uma associação significante entre o consumo de cereal infantil e GPR (OR, 3,52; IC 95%, 1,02-12,10) foi encontrada após o ajuste para peso ao nascer, idade atual e consumo de energia. O maior tercil de consumo de proteína foi associado a GPR após o ajuste para as mesmas variáveis (OR, 0,15; IC 95%, 0,02-0,94). Na segunda análise, 48 crianças ENI, com idade mediana de 12,3 meses [IQR: 11.85-13.69 meses], foram incluídas. A prevalência de excesso de peso foi de 40% e a de consumo excessivo de açúcar de adição foi de 50%. Os AUP contribuíram com 65% do consumo total de energia e com 100% do consumo de energia proveniente de açúcar de adição. Crianças que consumiram uma dieta excessiva em açúcar de adição receberam mais calorias provenientes de AUP (760 vs 530 kcal, P = 0,006) e menos calorias provenientes de alimentos minimamente processados (90 vs. 413 kcal, P = 0,006) do que aquelas com ingestão adequada de açúcar de adição. Não foram encontradas diferenças na prevalência de excesso de peso entre os grupos. Conclusões: diferenças no ganho de peso de crianças ENI nos primeiros 6 meses foram parcialmente explicadas pela alimentação. O padrão de consumo alimentar de crianças ENI a partir dos 6 meses baseou-se em AUP, que contribuíram com 65% das calorias totais e com 98% das calorias provenientes de açúcar de adição da dieta. Ações que incentivem a introdução de alimentação complementar baseada em alimentos in natura ou minimamente processados e que desestimulem o uso de AUP são imprescindíveis.