O entendimento do fluxo de produção e do aporte de nutrientes via decomposição da
serrapilheira e as interações do processo com parâmetros edáficos e ciclagem de
nutrientes de espécies nativas da Caatinga têm sido pouco estudados. O conhecimento
sobre ciclagem de nutrientes em florestas manejadas também permite inferências sobre
as espécies com maior capacidade de reciclagem de nutrientes e seu potencial para
recuperação de áreas degradadas. Objetivou-se com isso avaliar a produção e a
degradação da serrapilheira de oito espécies lenhosas da Caatinga e mensurar os efeitos
de sua aplicação sobre a fertilidade do solo e sobre a produção de sorgo em solo
degradado. Para isso realizou-se três ensaios: para o ensaio I quantificou-se a produção
de serrapilheira em um delineamento inteiramente casualizado com 6 repetições, por
meio da instalação de coletores sob a projeção da copa das espécies (tratamentos):
mofumbo, sabiá, jurema-preta, jucá, catingueira, pereiro, pau-branco e marmeleiro,
sendo o material coletado mensalmente; foram quantificadas a produção das frações
folhas, caule, material reprodutivo, miscelânea e total, bem como o aporte de nutrientes
no período chuvoso e seco. Para o ensaio II avaliou-se a taxa de degradação da fração
folhas de cada espécie citada por meio da utilização de litter bags, em delineamento
inteiramente casualizado com 4 repetições, as coletas foram aos 0, 30, 60, 90, 120 e 150
dias, em seguida quantificou-se os macro e micronutrientes, celulose, lignina e carbono
em cada tempo de amostragem. Para o ensaio III, realizou-se experimento em casa de
vegetação para mensurar os efeitos da aplicação dos resíduos da serrapilheira das
mesmas espécies mencionadas nos ensaios anteriores (I e II) sobre a fertilidade do solo
e a produção de sorgo em solo degradado, neste experimento adotou-se o delineamento
em blocos casualizados com 5 tratamentos e 5 repetições, sendo avaliadas doses
equivalentes a: 0, 15, 30, 60 e 120 kg ha-1
de N dos resíduos de cada espécie e um
tratamento adicional com adubação mineral, totalizando 30 unidades experimentais para
cada espécie. As variáveis mensuradas foram biométricas, biomassa, teor relativo de
clorofila e nitrogênio total, além de análises de fertilidade do solo. Com a análise dos
dados verificou-se que a época de maior produção de serrapilheira ocorreu no final do
período chuvoso para o início do período seco. A espécie jucá apresentou maior
produção de serrapilheira, comparado às outras espécies. O nutriente cálcio apresentou
maior acúmulo na serrapilheira para as espécies mofumbo, sabiá, catingueira, pereiro e
marmeleiro e o nitrogênio foi superior para as espécies jurema-preta, jucá e pau-branco.
Para todas as espécies avaliadas no ensaio de degradação houve redução significativa na
sua biomassa em relação ao tempo zero, apresentando a seguinte ordem de velocidade
de decomposição: jurema-preta > catingueira > pau-branco > jucá > marmeleiro >
mofumbo > pereiro > sabiá. No ensaio de fertilização com os resíduos verificou-se que
o marmeleiro promoveu efeitos negativos no solo, como acidificação. Porém, a
aplicação dos resíduos da espécie pau-branco foi a que promoveu aumento nos valores
de K, SB e CEC do solo e na produção do sorgo os resíduos de jurema-preta e paubranco
foram as que promoveram aumento na massa seca das plantas. Enquanto a
adubação mineral proporcionou aumento na produção de massa seca do sorgo,
demonstrando que a associação entre adubo mineral e o uso da serrapilheira de espécies
da Caatinga pode ser uma opção viável para acelerar a recuperação de solos degradados.