O látex de Himatanthus drasticus (Apocynaceae) é um fitoterápico incorporado na medicina
tradicional do Brasil, sendo utilizado como anti-inflamatório, cicatrizante e antitumoral. Nesse
sentido, objetivou-se avaliar o potencial toxicológico, anti-inflamatório, cicatricial e antitumoral
desse fitoterápico, bem como os aspectos toxicológicos envolvidos. O látex foi obtido
comercialmente (HdCL), submetido a análises fitoquímicas, ressonância magnética nuclear e
cromatografia de camada delgada para identificação de compostos. Os ensaios toxicológicos
agudos e subagudos foram realizados mediante administração de diferentes concentrações de
HdCL em camundongos, sendo avaliados os aspectos comportamentais, hematológicos,
bioquímicos e histológicos de órgãos. A atividade anti-inflamatória foi avaliada por meio do
modelo de edema de orelha induzida por xileno. O ensaio cicatricial empregado foi o modelo de
ferida cutânea induzida em camundongos tratados com HdCL e fração isolada mista do HdCL
(MIF). As feridas foram avaliadas morfometricamente, histologicamente e
imunohistoquimicamente (VEGF+, CD68+). Para o ensaio antitumoral, foi empregado o modelo
tumoral ascítico e sólido do Sarcoma 180. A progressão tumoral foi acompanhada por análises
morfométricas, hematológicas, histológicas e imunoistoquímicas (CD4+, CD8+, HSP-60+ e
Foxp3+), bem como o peso relativo de órgãos e a avaliação do estresse oxidativo. Como
resultado, HdCL apresentou sobrenadante róseo e sedimentação esbranquiçada. Fenóis, flavonóis,
flavanonois e esteróides livres foram identificados nas análises fitoquímicas. Foram isolados três
compostos triterpênicos: cinamato de lupeol, α-amirina e β-amirina. Na toxicidade aguda,
observou-se injúria hepática, demonstrado pelo aumento das enzimas e pelos achados
histopatológicos do fígado, baço e rim. Na avaliação hematológica subaguda, observou-se
leucopenia no grupo de maior concentração de HdCL acompanhado de aumento nas enzimas
hepáticas. HdCL não modulou o processo inflamatório tópico induzido pelo xileno. Em relação
ao ensaio cicatricial, HdCL induziu maior contração da ferida associada a leve processo
inflamatório e neovascularização, enquanto MIF promoveu intenso infiltrado inflamatório e
reepitelização parcial. Observou-se reorganização das fibras colágenas e a expressão de CD68+ e
mastócitos foi considerada intensa no grupo tratado com HdCL, enquanto a expressão de VEGF+
foi mais intensa em MIF. No ensaio antitumoral, não foram observadas alterações hematológicas,
no volume de fluido ascítico recuperado e no peso relativo de órgãos frente ao tratamento com
HdCL. Por outro lado, houve redução no volume da pata no tumor sólido. Na imunoistoquímica,
as expressões de CD4+ e CD8+ encontraram-se reduzidas. Não obstante, o HdCL reduziu os
níveis de malondialdeído sérico no modelo ascítico. Com isso, conclui-se que o HdCL induz
toxicidade e não apresenta atividade anti-inflamatória tópica. Dessa forma, o seu uso deve ser
supervisionado e controlado por médicos. HdCL apresenta potencial cicatricial através da
modulação dos mastócitos e das expressões de CD68+ e VEGF+, que podem estar associado à
presença de triterpenos de acordo com MIF isolada de HdCL. Por fim, HdCL reduziu o dano
oxidativo e modulou a expressão de CD4+, CD8+, FoxP3+ e HSP-60+ no modelo de tumor sólido,
efeito esse também atribuído aos compostos presentes no HdCL. Esses dados enfatizam a
importância do sistema imune e destacam a necessidade de avaliação das propriedades
farmacológicas de plantas usadas como fitoterápicos.