O controle do carrapato Rhipicephalus microplus é motivo de grande preocupação para os bovinocultores, especialmente em razão do aumento de frequência de populações de carrapatos resistentes. No Brasil, foi relatado que este parasito, isoladamente, é responsável por uma perda anual superior a 3 bilhões de dólares. Os acaricidas tem um papel fundamental no controle dos carrapatos, entretanto o uso intensivo desses químicos tem favorecido o desenvolvimento de populações resistentes desses parasitos. O amitraz é um acaricida presente no mercado há mais de quarenta anos, sendo utilizado para o controle de ectoparasitos em diversas espécies. A perspectiva de que o amitraz possa ser reutilizado em regiões onde a resistência está presente, introduz uma alternativa aos produtores que tem esse problema. No presente trabalho, foi realizada a caracterização fenotípica e genotípica da resistência ao amitraz em uma cepa de R. microplus resistente a acaricidas. Adicionalmente, realizou-se o cruzamento dessa cepa resistente com uma cepa suscetível a acaricidas, objetivando uma potencial reversão da resistência em condições experimentais. Para tanto, foram mantidas em condições laboratoriais por cinco gerações, três colônias de carrapatos: uma suscetível (cepa Porto Alegre (Poa)), uma resistente (cepa São Gabriel (SG)) e uma formada a partir de uma combinação de ambos os isolados (cepa MIX). A caracterização fenotípica de resistência ao amitraz foi realizada através de bioensaios laboratoriais com adultos e larvas (teste de imersão de adultos - TIA e teste do pacote de larvas - TPL). Para a ivestigação dos mecanismos de resistência, foram realizados testes com inibidores enzimáticos para avaliação do papel da degradação metabólica na resistência dos isolados de R. microplus estudados. Visando a caracterização genotípica da resistência ao amitraz, carrapatos, resistentes e suscetíveis ao amitraz, tiveram o seu DNA extraído e utilizado em PCR para a amplificação de um fragmento do gene do receptor de octopamina/tiramina e identificação de possíveis marcadores moleculares de resistência ao amitraz. Os resultados demonstrados no TIA indicaram que não foram observadas alterações na suscetibilidade ao amitraz na cepa mix até a quarta geração. A atividade in vitro (94,83%) do amitraz na quinta geração da cepa mesclada foi significativamente maior do que a geração anterior, demonstrando ser parcialmente eficaz o acaricida. No TPL conduzido com a primeira geração utilizada para realizar a mistura, a cepa resistente apresentou fator de resistência (FR) de 15,699 comparada com a cepa suscetível. A primeira geração da cepa MIX apresentou um FR de 1,199 e a cepa resistente um FR de 1,930, sendo estatisticamente diferentes. As duas gerações consecutivas formadas não apresentaram diferença estatística, sendo o FR da Mix G3 (0,977) comparado com FR da SG G3 (0,975) e o FR da Mix G3 (3,225) relacionado com o FR da SG G4 (3,211). Nos testes com inibidores enzimáticos, o dietilmaleato (DEM - inibidor de GSTs) e o butóxido de piperonila (PBO - inibidor de P450) conferiram sinergismo ao amitraz contra a cepa SG. Na cepa MIX, apenas o PBO aumentou a toxicidade. Sugere-se que as citocromo P450 oxidases e a GST podem estar envolvidas com a detoxificação do amitraz. No fragmento amplificado do gene do receptor de octopamina/tiramina a partir do DNA de indivíduos da cepa SG, foram identificados dois SNPs previamente associados à resistência ao amitraz em R. microplus dos continentes americano e africano. O presente trabalho adiciona algumas informações fenotípicas e genotípicas a respeito de uma cepa resistente ao amitraz, obtidas através do acompanhamento e evolução do perfil de resistência em laboratório.