Objetivo: Avaliar a eficácia, segurança e impacto na qualidade de vida de diferentes esquemas de quimioterapia citotóxica para pacientes acima de 70 anos câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) avançado (estágio IIIB ou IV) previamente não tratados. Métodos: Revisão sistemática Cochrane de ensaios clínicos randomizados (ECRs). As seguintes bases de dados eletrônicas foram pesquisadas: CENTRAL, MEDLINE, Embase e LILACS. Foi ainda realizada busca manual da literatura nas listas de referências de artigos importantes, nos anais de conferências da American Society of Clinical Oncology (ASCO), International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC) World Lung Cancer Conference, European Society of Medical Oncology (ESMO) e European Cancer Conference Organization (ECCO) e no banco de dados do ClinicalTrials.gov. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (ECRs) que compararam monoterapia não platina versus combinação não platina ou terapia não platina versus combinação baseada em platina. Foi permitida a inclusão de ECR desenhado especificamente para população idosa, assim como análise de subgrupo de pacientes acima de 70 anos em ECRs desenhados para população adulta. Os desfechos analisados foram sobrevida global (SG), qualidade de vida (QV), taxa de sobrevida em um ano (SG1a), sobrevida livre de progressão (SLP), taxa de resposta objetiva (TRO), eventos adversos graves (EA). A seleção, avaliação e extração dos dados foi realizada por dois revisores independentes, e um terceiro revisor arbitrou sobre qualquer divergência entre os dois revisores anteriores. A qualidade da metodologia dos estudos incluídos foi avaliada pela tabela de Risco de Viés da Cochrane. A qualidade da evidência foi avaliada segundo o Grading of Recomendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE). Quando possível, os dados dos estudos foram agrupados em metanálise. Como medidas de resumo da estimativa de tamanho do efeito foi calculado o hazard ratio (HR) para os desfechos tempo-paraevento e risco relativo (RR) para os desfechos dicotômicos, com intervalo de confiança (IC) de 95%. Resultados: Foram incluídos 51 estudos avaliando comparações monoterapia não platina versus combinação não platina (sete estudos) e terapia não platina versus combinação baseada em platina (44 estudos). Sobre monoterapia não platina versus combinação não platina, evidência de baixa qualidade sugere que os tratamentos têm eficácia semelhante quanto à SG (HR 0,92; com intervalo de confiança de 95%, IC 95%, 0,72 a 1,17; 1062 participantes; 5 estudos), SG1a (RR 0,88 IC 95% 0,73 a 1,07; 992 participantes; 4 estudos) e SLP (HR 0,94 IC 95% 0,83 a 1,07; 942. participantes; 4 estudos). Combinação não platina pode estar relacionada a maior TRO quando comparada a monoterapia não platina (RR 1,79 IC 95% 1,41 a 2,26; 1014 participantes; 5 estudos, evidência de baixa qualidade). Não foi encontrada diferença no risco de eventos adversos, particularmente anemia (RR 1,10 IC 95% 0,53 a 2,31; 983 participantes; 4 ECR; evidência de muito baixa qualidade), neutropenia (RR 1,26 IC 95% 0,96 a 1,65; 983 participantes; 4 ECR; evidência de baixa qualidade), trombocitopenia (RR 1,45 IC 95% 0,73 a 2,89; 914 participantes; 3 ECR evidência de muito baixa qualidade). Apenas dois ECRs avaliaram QV, no entanto, não foi possível realizar metanálise devido à escassez de dados disponíveis. Terapia não platina versus combinação baseada em platina: combinação baseada em platina provavelmente traz benefício em SG (HR 0,76 IC 95% 0,69 a 0,85; 1705 participantes; 13 ECR; moderada qualidade de evidência), SG1a (RR 0,89 IC 95% 0,82 a 0,96; 813 participantes; 13 ECR; moderada qualidade de evidência) e TRO (RR 1,57 IC95% 1,32 a 1,85; 1432 participantes; 11 ECR; moderada qualidade de evidência) comparada à terapia não platina. Combinação baseada em platina pode ainda resultar em benefício em SLP, embora esta evidência seja de muito baixa qualidade (HR 0,70 IC 95% 0,54 a 0,90; 1050 participantes; 6 ECR). A combinação baseada em platina está associada a maior risco dos seguintes eventos adversos graves: anemia (RR 2,53 IC 95% 1,70 a 3,76; 1437 participantes; 11 ECR; baixa qualidade de evidência), trombocitopenia (RR 3,59 IC 95% 2,22 a 5,82; 1260 participantes; 9 ECR; baixa qualidade de evidência), fadiga (RR 1,56 IC 95% 1,02 a 2,38; 1150 participantes; 7 ECR), náuseas/vômitos (RR 3,64 IC 95% 1,82 a 7,29; 1193 participantes; 8 ECR), neuropatia periférica (RR 7,02 IC 95% 2,42 a 20,41; 776 participantes; 5 ECR; baixa qualidade da evidência). Apenas cinco ECRs avaliaram qualidade de vida, no entanto, não foi possível a realização de metanálise devido à escassez de dados disponíveis. Conclusão: Em pacientes acima de 70 anos com CPCNP avançado, sem comorbidades significativas, o aumento de sobrevida associado à combinação baseada em platina precisa ser contrabalanceado ao aumento de riscos de eventos adversos graves quando comparado à terapia não platina. Para pacientes não candidatos a tratamento baseado em platina, uma baixa qualidade da evidência sugere eficácia similar em sobrevida entre monoterapia não platina e combinação não platina. A comparação entre o perfil de efeitos adversos entre os dois grupos é limitada devido à baixa qualidade da evidência. Dados adicionais em qualidade de vida são necessários para guiar o processo de decisão terapêutica.