Os porcos ferais (Sus scrofa) são considerados reservatórios de vários
agentes virais e bacterianos que causam doenças em animais de produção e
humanos. Com a tendência do aumento da população destes suídeos de vida
livre é necessário o diagnóstico e monitoramento sanitário destas populações.
Atualmente, no Brasil ainda não há trabalhos relacionando a frequência de
brucelose em porcos ferais e bovinos que vivem em simpatria, além da ausência
de informações da epidemiologia e isolamento do agente e sua relação com os
porcos ferais presentes no mesmo ambiente dos bovinos no Pantanal. Objetivouse
neste trabalho avaliar, por meio de três testes sorológicos (AAT, 2-ME e PFA),
a frequência de anticorpos anti-brucella e a comparação desta nos porcos ferais
e bovinos, bem como a obtenção do isolamento e detecção do DNA de Brucella
spp. em diferentes amostras biológicas coletadas de porcos ferais no Pantanal
de Mato Grosso do Sul. O estudo foi conduzido em nove propriedades rurais no
município de Corumbá no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, compreendendo
duas sub-regiões do Pantanal, Nhecolândia e Paiaguás. Foram capturados 105
porcos ferais e coletados materiais biológicos para a sorologia, isolamento e
diagnóstico molecular de Brucella spp. e de 256 bovinos foram obtidos o soro
sanguíneo para os testes sorológicos. A frequência de positivos para os porcos
ferais na sorologia foi de 1% (1/105) no teste do antígeno acidificado tamponado
(AAT), nenhum porco feral positivo no teste confirmatório 2-Mercaptoetanol (ME)
e 1% (1/105) no teste de polarização fluorescente (PFA). A frequência de
positivos nos bovinos amostrados foi de 11,32%, 4,3% e de 7,42% nos testes
AAT, 2-ME e no FPA respectivamente. A frequência nos rebanhos, com ao
menos um animal positivo na propriedade, foi de 77,77% (7/9) e 100%,
considerando os resultados do 2-ME e da FPA. O grau de concordância obtido
entre os testes sorológicos 2-ME e a FPA utilizado nos bovinos foi de
Kappa=0,506 (p<0.001), 95% CI (0.282 – 0.729). Foi obtido o isolado
característico de Brucella spp. em oito porcos ferais sendo que, nestas culturas,
foram detectados o DNA do gênero Brucella por meio da qPCR utilizando o
primer IS711. Do produto adquirido na qPCR, proveniente da colônia obtida de
um swab nasal, foi feita a Nested PCR na qual também se detectou o DNA. A
amostra de DNA da colônia sequenciada obteve uma concordância de 100%
com a sequência do gênero Brucella por meio da análise no BLAST. A detecção,
nas amostras clínicas, do DNA de Brucella spp. foi obtida em 15 porcos ferais.
De acordo com os resultados este é o primeiro isolamento e confirmação de
Brucella spp. em porcos ferais de vida livre no Brasil. Há a presença de Brucella
spp. nos porcos ferais na região do Pantanal do Estado de Mato Grosso do Sul
e estes animais podem estar atuando como reservatórios de Brucella spp. Os
testes sorológicos demonstraram que a brucelose está bem difundida nos
bovinos, porem estes testes falharam em detectar os porcos ferais positivos na
cultura.