O intuito deste trabalho pautou-se na tentativa de apreender a narrativa ficcional das práticas
discursivas do Hospital Universitário da Grande Dourados. O esforço empreendido foi fazer
uma interpretação dos discursos que territorializam os sujeitos, na intenção de construir e
descrever densamente as teias de relações às quais esses sujeitos estão ligados. O que norteou
o caminho desta proposta foi a busca por compreender de que forma usuários e profissionais
se relacionavam entre si e de que forma eles constituíam a instituição. Isto é, a intenção é
entender de que forma as várias territorialidades e discursos moldavam e controlavam o
comportamento dos sujeitos que por aquele território circulavam. Este trabalho situa-se no
campo antropológico, mas nasce da interseção entre Psicologia e Antropologia, cujo diálogo
permeia toda a sua tessitura. A dissertação está dividida em três capítulos: o primeiro capítulo,
intitulado “Dos Percursos e Percalços Metodológicos”, apresenta a trajetória de entrada no
campo, como se estabeleceu o contato enquanto pesquisadora na área de Antropologia, com
destaque para três divisores temporais, ou seja, busca-se fazer uma contextualização histórica
e social dos discursos e, simultaneamente, dos comportamentos humanos ali observados; no
segundo capítulo, intitulado “Relato Etnográfico das Instituições Hospitalares: do Nascimento
da Clínica à Hos(til)pitalidade”, descreve-se as relações sistêmicas entre os diferentes
elementos da vida social que estão ligados à totalidade desse sistema, na intenção de produzir
uma etnografia a partir da observação participante; e no terceiro capítulo, intitulado “Palavras
Ditas e Vozes Contidas: Territorializações do Espaço Hospitalar do Hospital Universitário da
Grande Dourados”, discorre-se sobre os dados de campo aos moldes clássicos da
Antropologia: observação participante, costura com os diálogos teóricos e delineamento do
sujeito antropológico, além de debater as categorias analíticas desta proposta empreendida. A
partir da inserção como pesquisadora junto ao NIR, houve a percepção de que as práticas
desenvolvidas por esse setor levam ao encontro do entendimento de que a lógica de
funcionamento hospitalar está alicerçada sobre o dispositivo da disciplina que esquadrinha os
sujeitos em objetos de um saber. Como dispositivo institucional, o NIR lança mão de
estratégias de territorializações (ação de um poder) para que o usuário seja o sujeito da ação, o
objeto pelo qual o saber incide e controla. Essas estratégias se organizam de modo que o
usuário se transforme em índices pedagógicos, econômicos, de pessoalidade e de gratidão,
entre outros. Essa será a forma pela qual o usuário será tocado pelo NIR. Contudo, o fato
desse esquadrinhamento facilitar a disciplinarização dos sujeitos que adentram o NIR não
impede que movimentos de contrapoder, ou de resistência ocorram dentro da instituição.