A utilização de rios para o aproveitamento energético é uma realidade que afeta os principais corpos hídricos brasileiros. Os aspectos sobre a ecologia espacial e funcional da comunidade planctônica, na área de influência da barragem da Usina Hidroelétrica de Estreito, no médio curso do rio Tocantins, foram estudados com base em amostragens realizadas, por arrasto superficial com redes de plâncton, em 20 pontos de coleta, distribuídos nos 20 km a montante e a jusante da barragem, durante os períodos chuvoso e seco. As análises físico-químicas revelaram a formação de um gradiente ambiental diretamente relacionado ao estabelecimento do reservatório. Na avaliação do estado trófico o ambiente lago teve comportamento oligotrófico enquanto o rio apresentou padrão mesotrófico. Foram identificados 22 tipos morfofuncionais de algas planctônicas na amostragem, 13 destes apresentando relação significante com as variações observadas na densidade da comunidade zooplanctônica. Com 145 taxa de organismos zooplanctônicos identificados, a diversidade estimada pelo índice de Shannon-Winer foi de 3,22±0,01 nat.ind-1, com 64,7% de equabilidade. Os rotíferos apresentaram a maior riqueza de espécies com 90 taxa, seguidos de cladóceros (42) e copépodos (12). A riqueza e diversidade variaram de forma significante em relação as variações sazonais e ambientais, enquanto a densidade de organismos apresentou variação significante apenas em relação ao tipo de ambiente. A densidade no período chuvoso foi dominada pela espécie de rotífero Filinia camasecla e pelo cladócero Bosmina longirostris, enquanto que as espécies de rotíferos Ptygura libera e Conochilus unicornis foram as mais representativas durante a estiagem. A análise de agrupamento Two-way revelou a formação de grupos de amostras que se relacionam com a sazonalidade e o tipo de ambiente, um padrão semelhante tendo sido encontrado nos grupos de espécies formados. A aplicação do índice de valor de Importância – IndVal revelou que 36 das espécies amostradas são potenciais indicadoras ambientais. As espécies F. camasecla e Plationus patulus macrocanthus, foram fortes indicadoras do período chuvoso, enquanto que o gênero Gastropus, e as espécies P. libera, C. unicornis, Trichocerca cylindrica e Brachionus dolabratus dolabratus apresentaram forte poder de indicação para o período seco, estes dois últimos se destacando no ambiente rio. A análise de redundância canônica (RDA) da variação da densidade zooplanctônica, levou a explicação de 41,9% da variância, sendo 32,8% desta concentrada nos dois primeiros eixos canônicos. A análise de partição de variância demonstrou que a fração da variação da densidade que pode ser atribuída exclusivamente aos aspectos ambientais correspondeu a 13% em comparação a 23,7% da fração ambiente-tempo, atribuída a modificação dos aspectos ambientais ao longo da variação temporal. As metacomunidades estudadas apresentaram o padrão geral semi aninhado, havendo diferenciação ao longo do tempo dos padrões das comunidades de cladóceros e rotíferos, o que demonstra que estas respondem as variações ambientais ao longo dos períodos sazonais. A comunidade zooplanctônica estudada, foi composta por 8 grupo funcionais de organismos, que apresentaram distribuição relacionada aos tipos de ambientes e períodos sazonais. Contudo, não houve variação significativa na diversidade funcional ao longo da amostragem. Apesar de não terem sido identificados, pela técnica do quarto-canto, relações significantes entre os aspectos ambientais e os traços funcionais da comunidade zooplanctônica, a aplicação da análise RLQ demonstrou haver interação significante entre os traços funcionais e os eixos que representam o gradiente ambiental ao longo da amostragem, assim como entre os parâmetros ambientais e o espaço funcional das espécies.