Anualmente grande parte da população mundial é infectada pelo vírus herpes
humano tipo 1 (HHV-1) e vírus herpes humano tipo 2 (HHV-2), no Brasil as
infecções herpéticas são consideradas as mais prevalentes. O HHV-2 é o
principal patógeno da herpes genital e acomete mais de meio bilhão de pessoas
no mundo. Esta doença infectocontagiosa, é inclusa no grupo das doenças
sexualmente transmissíveis (DST) incuráveis. Os fármacos convencionais
administrados, são capazes apenas de diminuir o tempo da doença, prevenir as
sintomatologia e recorrência das infecções. Desde a década de 70, o principal
fármaco utilizado no combate ao HHV-2 é o aciclovir (ACV), porém sua intensa
administração em tratamentos prolongados, aliado ao seu uso indiscriminado têm
resultado no surgimento de cepas virais resistentes. Tal quadro torna a busca por
novos fármacos, essenciais e de constante urgência para saúde pública.
Mediante este panorama, o presente trabalho buscou avaliar o potencial antiviral
de duas substâncias. O meroditerpeno ácido atomárico e o diterpeno tipo
dolastano 4α-acetoxi-9β,14α-dihidroxidolasta-1(15),7-dieno que foram isolados a
partir das algas pardas marinhas Stypopodium zonale e Canistrocarpus
cervicornis e nomeados neste trabalho como substância 1 e 2, respectivamente.
Foram realizados ao todo 5 análises in vitro, incluindo o ensaio de atividade
antiviral (EC50), determinação do índice de seletividade (SI), atividade virucida,
ensaio de inibição da adsorção e ensaio de inibição da penetração, somado a isso
também foi analisado teoricamente in silico os possíveis alvos macromoleculares,
farmacocinética e toxicidade das substâncias frente ao HHV-2. Os resultados
iniciais de EC50 e SI, demonstraram que ambas as substâncias possuem valores
de EC50 próximo ao do ACV (substância 1 = 1.03µM; substância 2 = 2.76µM;
ACV = 0.55µM) e SI acima de 300. Apenas a substância 1 obteve atividade
virucida, com inibição a partir de 87%, na concentração de 50µM por 1h de
tratamento. Em concentrações maiores foi possível observar inativação de 100%
de HHV-2. Ambos os produtos inibiram fracamente a adsorção do HHV-2,
sugerindo que não foram capazes de atuar nas glicoproteínas virais para o
sucesso dessa etapa. As substâncias 1 e 2 inibiram a etapa de penetração viral,
com percentagem de inibição do HHV-2 acima de 80%. O ácido atomárico atuou
com maior eficiência de inibição (85%) durante os primeiros 15min. Já o 4-
acetoxidolastano, interferiu na penetração viral a partir de 30min, com 82% de
inibição. A análise teórica in silico evidenciou ausência de dados com relação a
possíveis alvos macromoleculares desses produtos com HHV-2. Foram
evidenciadas ausência de toxicidade, mutagenicidade e alertas estruturais,
revelando uma ausência ou desconhecimento de grupamentos interferentes em
ensaios biológicos. Ambas as substâncias possuem um perfil promissor para
continuação dos estudos in vitro e in vivo, para o futuro desenvolvimento de
derivados com ação antiviral, uma vez que apresentaram mecanismos de ação
distintos a droga de referência (ACV) e atividade in vitro e in vivo também contra o
HHV-1.