Objetivos: Avaliar a capacidade aeróbica de crianças nascidas prematuras,comparando-as às nascidas a termo e identificar os fatores associados à capacidade aeróbica das crianças estudadas, utilizando o teste de exercício cardiopulmonar (TECP).
Métodos: Estudo transversal com dois grupos de crianças de 6-9 anos, sendo um grupo de prematuros com peso ao nascer <1500g, acompanhados no Ambulatório de Prematuros da Universidade Federal de São Paulo. O segundo grupo composto por crianças nascidas a termo, sem intercorrências clínicas no período neonatal, irmãos, amigos ou parentes dos prematuros. Foram excluídas: malformações congênitas, doenças neuromusculares, alterações neurológicas, clínicas ou no desenvolvimento que pudesse comprometer os resultados ou a segurança da criança durante o teste, e doença respiratória nos últimos 15 dias antes do teste. Para o TECP foi aplicado um teste incremental sintoma/limitado, com protocolo rapidamente incremental com aumento individualizado de carga em esteira. Foram avaliados: pulso de oxigênio (PuO2),
frequência cardíaca de pico (FC Pico), percentual da frequência cardíaca máxima prevista para a idade (% FC máxima), relação volume corrente/capacidade inspiratória (VC/CI repouso e pico), eficiência ventilatória equivalente ao limiar anaeróbico ventilatório (LAV) e sua relação submáxima (VE/VCO2 slope e lowest), consumo de oxigênio (VO2) pico e percentual do consumo máximo de oxigênio previsto para a idade (%VO2 máx prev), consumo de oxigênio no limiar anaeróbico/limiar anaeróbico (VO2 no LA), relação consumo máximo de oxigênio no limiar anaeróbico e percentual de consumo máximo de oxigênio previsto para a idade (VO2@LA/% VO2 max. pred), Oxygen Uptake Efficiency Slope: eficiência de captação de oxigênio (OUES). A amostra calculada foi de 22 participantes em cada grupo para obter uma diferença no
VO2 de 7,3 mL/Kg/min entre os grupos, com alfa de 0,05 e beta de 0,80. As variáveis categóricas foram comparadas pelo qui-quadrado ou teste exato de Fisher e as numéricas pelo teste t de student ou Mann-Whitney, conforme distribuição avaliada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Para análise de fatores associados à capacidade aeróbica, utilizou-se regressão linear univariada e múltipla. As variáveis com
significância clínica e estatística (p< 0,2) na regressão univariada, foram incluídas na regressão linear múltipla. As análises estatísticas foram realizadas no programa SPSS for Win/v.17.0, considerando-se significante p<0,05.
Resultados: Foram incluídas 34 crianças nascidas prematuras (idade gestacional 29,8±2,5 sem., peso 1131±228 g) e 32 crianças a termo. De 34 prematuros, 70,6% necessitaram de ventilação mecânica e o tempo de internação na unidade neonatal foi 61 ± 21 dias. À inclusão no estudo, os dois grupos eram semelhantes quanto à idade, peso, altura, índice de massa corpórea e incidência de sobrepeso/obesidade e diferentes no escore Z estatura/idade (Prematuros: -0,35±1,17 vs. Termo: 0,24±0,96, p=0,032). Todos
os parâmetros de capacidade aeróbica foram semelhantes nos dois grupos. Na regressão linear múltipla: FC pico se associou positivamente à displasia broncopulmonar e sobrepeso/obesidade; % FC máxima se associou positivamente à displasia broncopulmonar e sobrepeso/obesidade; PuO2 se associou positivamente ao escore z de estatura/idade e negativamente ao sexo feminino; VO2 pico se associou positivamente a
peso < 1000g, e negativamente ao sexo feminino e sobrepeso/obeso.
Conclusões: Os parâmetros de capacidade aeróbica avaliados no teste de exercício cardiopulmonar foram semelhantes nos dois grupos. Os fatores associados à capacidade aeróbica foram: sexo feminino, displasia broncopulmonar e variáveis relacionadas ao crescimento corporal das crianças estudadas, mostrando a influência de fatores neonatais e de crescimento pós-natal sobre a capacidade aeróbica de crianças nascidas prematuras.